06/08/2012

LIVRES DA PERFEIÇÃO QUE SÓ FAZIA ESTRAGOS


         Tem uma música interessante do Nando Reis chamada “A minha gratidão é uma pessoa”. Fala de alguém que perdoou seu companheiro de um erro que ele cometeu, das dificuldades que é conviver com isso, mas também da necessidade de se superar a mágoa, a ferida causada e seguir em frente admitindo que não se pode achar a perfeição numa pessoa, num ser humano. Interessantíssima é a última frase da poesia dessa música que diz que eles “estavam livres da perfeição que só fazia estragos”.

         Fiquei ruminando essa frase “estavam livres da perfeição que só fazia estragos” e com a mente de quem gosta de pensar sempre trazendo a pergunta “o que de Deus pode ter ai?” passei a pensar teologia com essa frase na cabeça.

         Com Paulo em mente, penso que uma das falhas de se viver e expressar o cristinismo está na auto-cobrança e cobrança externa opressiva que vemos hoje para se exigir perfeição do homem e da mulher de Deus. Porque Paulo em mente? Lembrei do apóstolo Paulo escrevendo aos Filipenses (no capítulo 3 versículo 12) “Não que já a tenho alcançado, ou que seja perfeito; mas vou prosseguindo, para ver se poderei alcançar aquilo para o que fui também alcançado por Cristo Jesus”. Vejam que o Apóstolo fala claramente que ele não alcançou, ele não é perfeito!

         Vivemos hoje na "ditadura da excelência", falamos de "vitória", do "sucesso", da "conquista". E há extrema dificuldade de se viver o "caminhar mais uma milha", de ter tolerância, paciência, praticar o perdão e, sobretudo, o amor. Exigimos a perfeição de tal forma e nos cobramos a perfeição de tal forma que não abrimos espaço para a prática do amor e da misericórdia. E onde está a dinâmica da graça (favor não merecido) nisso?

         Veja bem, não estou aqui falando que devemos viver dissolutamente, sem compromisso com a Palavra e com a vontade de Deus para nossas vidas. Mas estou propondo que passemos a reconhecer, admitir nossa pequenez, as nossas falhas, os nossos dilemas, dificuldades...

         Se cobre menos. Reconheça sua natureza em que errar faz parte. Não é pra que diante do erro você não busque o arrependimento, a confissão e a mudança. Não! Você deve reconhecer o erro, se arrepender, confessar e mudar, mas o que digo é: não se martirize! Reconheça a sua fraqueza, dependa mais de Deus, espere e se apóie em Deus para sua força. Não é a toa que o mesmo apóstolo Paulo na sua segunda carta à igreja de Corinto (capítulo 12 versículo 10) escreve “Porque quando estou fraco, então é que sou forte

         Livre-se dessa ditadura da perfeição que gera opressão, depressão, culpa – “perfeição que só fazia estragos”. E viva na dinâmica da misericórdia e do amor cristão e da dependência e graça do nosso Deus.

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