27/08/2012

IGREJA E POLÍTICA - III


95 PASTORES BATISTAS CARIOCAS FAZEM VERGONHA À DENOMINAÇÃO
 
Antes de tudo, quero dizer quatro coisas:
1 – Não foi a totalidade dos pastores que participaram do “Manifesto dos Pastores Batistas Carioca” (clique nas imagens para amplia-las);
2 – Não está identificado (graças à Deus!) em nenhuma parte do documento a sigla CBC (Convenção Batista Carioca) ou CBB (Convenção Batista Brasileira), ou seja, não é um manifesto institucional da denominação Batista;
3 – Esses pastores, os signatários desse “manifesto” (os quais muitos eu conheço) tem total respeito da minha pessoa no tocante aos seus ministérios, contudo a ação realizada fere (e muito!) o que os irmãos, que se conhecem pelo nome de Batistas, vem defendendo ao longo de toda sua existência – a separação entre Igreja e Estado;
4 – Fiz o scanner do panfleto do “manifesto” editando os nomes dos pastores e do candidato em questão, pois aqui não quero expor a ninguém (pastores ou candidato), mas tão somente a minha opinião.

Qual foi meu espanto ao sair do culto de Domingo da minha igreja e receber à porta um “Manifesto dos Pastores Batistas Cariocas”!

Nas primeiras linhas pensei se tratar de algo lúcido e muito bem alinhado com a nossa história caracterizada “pela defesa dos princípios que fundamentam a sociedade ocidental (ampla liberdade de opinião e crença; nítida separação entre igreja e estado; dignidade plena de todos os seres humanos; completa lisura nos negócios e no trato das questões públicas e aplicação dos mais altos preceitos éticos em todas as instâncias e ações sociais).” As aspas são porque retirei do próprio tal manifesto.

Segue o documento dizendo que não concordamos com o quadro de desigualdade, com a qualidade da representação pública no município, com a situação da presença de grupos armados em determinada áreas da cidade que coíbem os mais elementares direitos da cidadania e que este não é o momento de nos ausentarmos, posto que temos a atenção do mundo sobre nossa cidade em detrimento dos próximos eventos que aqui se realizarão (Copa do Mundo e Olimpíadas).  Até aqui estava achando o documento legal, bacana mesmo até que me deparo com a seguinte frase:

“Lutaremos para a melhoria da qualidade da representação política de nossa Cidade, centrando nossos esforços em uma candidatura à Câmara dos Vereadores que reúna qualidades indispensáveis, como:” (segue uma lista de virtudes). Finalizam essa primeira parte do manifesto dizendo que esta é “a real vontade dos cristãos desta cidade, chamados batistas” e subscrevem (para minha total tristeza) vários e vários pastores que muitos eu conheço e sei do maravilhoso ministério que possuem (não há ironia nessa minha declaração). Editei esta lista de signatários, mas é esta página ao lado.  

E finaliza o documento dizendo que “entendemos que o nosso primeiro projeto, como um Movimento Evangélico de Apoio Político é levar para a Câmera dos Vereadores...” o candidato “Xxxxx Xx Xxxxx”.

Meus caros irmãos e irmãs, e em especial os que fazem parte dessa denominação me digam: O que é isso que se apresentou aos meus olhos??? Não pude crer que li uma coisa dessa vindo de um grupo Batista, muito menos cri como isso pôde ter vindo de um grupo de pastores batistas. Motivos:

1º - Isso caracteriza algo que por muitos e muitos anos, e ainda hoje macula e prejudica a democracia do nosso país que é o famigerado “voto de cabresto”. O voto de cabresto, para quem não sabe, é um sistema de controle de poder político através do abuso de autoridade onde o indivíduo que tem influência sobre um determinado grupo conduz a que essas pessoas votem no candidato que eles querem. O que é este “Manifesto dos Pastores Batistas Cariocas” senão uma tentativa (ou uma ação real) para a manutenção do voto de cabresto? Documento que diz que é esta a vontade dos mais de 200.000 membros da denominação no município do Rio de Janeiro. Isso pode tão somente ser expresso numa palavra: manipulação; ou ainda uma expressão: “voto de cabresto”.

2º - Pastores, meus irmãos e irmãs, são autoridades espirituais. Para àqueles que possam estar pensando “Coitado desse que escreve este post, pois está indo contra aos que os ungidos do Senhor fizeram” explico que estes homens, pastores, foram ungidos para guiar o rebanho do Senhor no tocante as coisas relativas ao Reino de Deus e não com relação a vida civil – eles não me representam e não nos representam, enquanto membros da igreja, na vida civil para fazer tal coisa.

A Bíblia nos ensina a sermos políticos. Sim, ela nos ensina sim! Desde os tempos profetas podemos verificar isso. Eles denunciavam: 1) a opressão, 2) a exploração, 3) a miséria de muitos em detrimento da riqueza de poucos e 4) também iam contra aos governantes que nada faziam em direção a resolução desses problemas, dentre outras tantas questões. A Bíblia nos ensina o quanto nós devemos ser conscientes enquanto cidadãos. Aos pastores, por sua vez, cabe ensinar aos membros que devemos ser políticos (afinal política é a arte de promover o bem-estar social e a missão do povo de Deus desde Abraão é ser bênção às nações, missão esta ratificada pelo evangelho de Jesus de Nazaré), mas aos pastores não convém que sejam partidaristas atuando em favor de um partido “A” ou “B”, ou atuar em favor de um candidato “A” ou “B”.

Mais uma vez ressalto meu respeito a esses homens de Deus, e também ressalto que não tenho nada contra (ou a favor) ao candidato apoiados por eles. É legítimo que eles queiram apoiar um determinado candidato de sua preferência, isso é democrático. Porém não lhes é lícito ou legítimo que falem em nome da denominação e dos seus membros, pois para eles não foi outorgado tal autoridade de falar em nosso lugar na vida civil, enquanto cidadãos.   

Quero crer que isso tudo tenha se tratado de um grande e infeliz equívoco que não retrate as posturas futuras de nossos pastores do município do Rio de Janeiro. E estes pastores que realizaram estes manifesto espero que caiam em si e honrem a história da nossa denominação não realizando essa prática em suas igrejas.

Um comentário:

  1. Para a minha alegria, o primeiro pastor à quem questionei e que está na listagem do manifesto falou que não sabia do que se tratava tal documento nem do seu conteúdo. Ufa! rsrsrs

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