“Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê.” Romanos 1:16
Neste post vou fazê-lo em tópicos para construção do
pensamento, não vou transcrever todos os textos, mas porei (como de costume) link
para o texto bíblico numa Bílblia on-line.
Vamos primeiramente ter algumas coisas em mente antes de
começar a escrever efetivamente para a construção do nosso itinerário.
- Quando Paulo fala de “escritura” em sua
segunda carta à Timóteo (3:16) “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça;” ele se referia ao
Primeiro Testamento. (lembremos que o segundo testamento ainda estava
sendo escrito, alguns evangelhos datam do final do primeiro século);
- Este primeiro
testamento era praticamente a única história escrita dos judeus;
- Assim como Jesus expõe,
por ocasião da sua caminhada com dois discípulos à Emaús, Paulo via a obra
de Cristo como a culminação dessa “História da Pátria” que podemos dizer ser
uma “História da Salvação” ou ainda “Plano de Deus para a Salvação”.
Nosso
foco, em semelhança ao post “SAL-VA-ÇÃO, SALVAÇÃO, VAMOS PENSAR”, é alargar,
ter uma visão global/integral da mensagem bíblica como história da Salvação.
I – Bíblia de Gênesis a Apocalipses, uma história.
Não sou muito afeito a realizar uma
leitura sincrônica da Bíblia, mas uma coisa me chama a atenção. A Bíblia é um
livro que começa e termina com quase as mesmas palavras (com o mesmo tema, com
certeza) veja:
“No princípio Deus criou os céus e a terra.” (Gênesis 01:01) e “Então vi um novo céu e uma nova terra” (Apocalipse 21:01). A mensagem bíblica se dá nessa marcha
de uma criação para a outra onde se realiza o Plano da Salvação, vamos caminhar
nessa marcha:
- Na narrativa de gênesis, vemos a desobediência
destruindo (Gênesis 03:06) a boa ordem da criação. E ai temos o primeiro
fraticídio (04:08), a presença de bigamia (04:19), assassinato (04:23) e
por ai a fora;
- Quando chegamos no capítulo 12 há o início de
uma nova história de graça e bênção (12:03) com a chamada de Abrão. É a
graça de Deus lutando com o pecado para preservar o sentido original da
criação (que só se realizará plenamente na nova criação)
- Um parênteses aqui, só pra pensar numa coisinha... Segunda carta de
Paulo aos Coríntios (05:17) diz “Portanto,se alguém está em Cristo, é nova criação.” Interessante isso! Podemos dizer que
somos as primícias dessa nova criação, logo representantes dela – deste Reino
de Deus. Legal, não?
II – Abraão, com ele inaugura uma nova História da Salvação
- Irrompe bênção e graça;
- É chamado para uma peregrinação de fé;
- Fé esta que lhe imputa (atribui) justiça;
- É identificado como amigo de Deus (II livro de Crônicas 20:07; Isaias 41:08);
- Dele surge um novo povo próprio de Deus;
- A promessa recebida por Abraão e renovada com
seus descendentes aparece sempre com duas palavras: “bênção” e “nações”. A
primeira reação de nós, cristãos, ao lermos essa passagem é pensar que
esta bênção é Cristo (que irá nascer da descendência de Abraão), mas vamos
com calma... No pensamento hebraico e no contexto os termos são literais
e, em princípio, não devem ser (digamos) espiritualizados.
- Bênção é o que chamamos de bem-estar, é a
shalom dos judeus, é a vida (Deuteronômio 30:19-20) abundante em todas as
dimensões e relações.
- Nisto é interessante ver o comportamento
diplomático de Abraão resolvendo os litígios de alguns grupos na terra.
Gerando a paz e o bem-estar entre as partes. Mas sobre tudo há um momento
em que esse chamado de ser bênção às nações se realiza plenamente: estamos
falando de José.
III – José, a realização plena da promoção de bênção (bem-estar, paz)
para às nações
- Com José no segundo cargo de mais importância
no governo do Egito (somente abaixo do Faraó) ele cria dispensas para
alimentar pessoas durante uma crise de desabasticimento;
- A maldição atuou contra ele (quando foi
vendido como escravo pelos seus irmãos) porém Deus a transformou em
bênção;
- Deus o chama para a “diaconia política”
(política, no dicionário é promover o bem-estar de todos);
- Com José a promessa é cumprida literalmente e
do povo de Deus a vida das nações é conservada;
Uma
primeira conclusão: Compreender o
Evangelho (boa nova) segundo as Escrituras (no caso, 1º e 2º testamentos) é entedender como “bênção às nações”, ou simplesmente
ser uma bênção à todas as pessoas.
1)
Bênção espiritual – Fé na morte de Cristo;
2)
Bênção pessoal – Conhecer pessoalmente a Cristo;
3)
Bênção física e material – conotação da palavra bênção no hebraico.
Logo, evangelizar é chamar
pessoas a Cristo para perdão dos seus pecados e se incorporarem ao projeto de
serem bênção para as pessoas em seu redor (quer crente ou não).
Falamos
de Abraão, José agora daremos um outro salto e chegaremos ao Êxodo...
IV – Êxodo, a
História continua.
- O Êxodo, de certa forma, pode ser usado como eixo de interpretação
para a Bíblia até o Apocalipse. Vamos trabalhar isso ao longo do texto.
- Primeiramente vamos ao que chamaria de o credo do Êxodo: “5
Então vocês declararão perante o Senhor, o seu Deus: "O meu pai era um arameu errante. Ele desceu ao Egito com pouca gente e ali viveu e se tornou uma grande nação, poderosa e numerosa. 6 Mas os egípcios nos maltrataram e nos oprimiram, sujeitando-nos a trabalhos forçados. 7 Então clamamos ao Senhor, ao Deus dos nossos antepassados, e o Senhor ouviu a nossa voz e viu o nosso sofrimento, a nossa fadiga e a opressão que sofríamos. 8 Por isso o Senhor nos tirou do Egito com mão poderosa e braço forte, com feitos temíveis e com sinais e maravilhas. 9 Ele nos trouxe a este lugar e nos deu esta terra, terra onde manam leite e mel.” (Deuteronômio
26:5-9)
- Também serei cauteloso para não sair “espiritualizando” a questão.
O que foi o Êxodo? Uma libertação histórica integral de um povo oprimido
nas dimensões política, econômica, social, étnica e religiosa;
- No êxodo, vemos surgir uma tradição, vamos nomeá-la aqui de
“tradição exodiana” do Ano do Jubileu (ou ano da graça de Deus), olhe como
ela se expressa:
- No livro de Levíticos 25:08-17 nos versos de 08-10 observamos uma espécie de Reforma Agrária;
- No Deuteronômio 15:01-11 se estipula que teriam que ser perdoadas todas as dívidas entres os
israelitas de tempos em tempos (pré-determinado em Lei). Isto evitava a geração de pessoas oprimidas (devedores oprimidos por credores) na prática era algo que evitava a proliferação de pobreza no meio do povo de Deus. A lógica, falando de maneira bem simples, era "eu um dia fui escravo e de graça Deus ne libertou, assim também não escravizarei quem me deve";
- Ainda no Deuteronômio 15:12-18 versa sobre a emancipação de escravos;
- O ciclo de comemorações do Êxodo está presente em toda a mensagem
bíblica;
Os profetas evocam a todo o momento essa tradição do Êxodo.
V – Profetas,
portadores da tradição exodiana (ou tradição do Êxodo)
Cabe ressaltar aqui o que é um profeta. Profeta é aquele que denuncia o pecado do povo ou das autoridades do povo, anunciando as consequências que isso acarretaria a Israel. Profeta não é um adivinho, o futuro que ele anuncia é consequência lógica do não cumprimento da Lei de Deus. A Lei de Deus, se fosse levada a sério, fortaleceria o povo, mas, sendo ignorada este comportamento geraria opressão entre o povo, logo ele ficaria enfraquecido. Vamos ver aqui uma pequena demonstração da denúncia que os
profetas faziam em torno da não observação do Ano do Jubileu e do espírito
(essência) do credo e da tradição exodiana:
- Miquéias denuncia
- A opressão (02:08-09)
- Os opressores (07:03-04)
- Amós fala contra os que acumulam riquezas para seu conforto em
detrimento da pobreza de outros (03:13-15 e 06:01-07 “1 Ai de vocês que vivem tranqüilos em Sião, e que se sentem seguros no monte de Samaria; vocês, homens notáveis da primeira entre as nações, aos quais o povo de Israel recorre! 2 Vão a Calné e olhem para ela; depois prossigam até a grande Hamate e em seguida desçam até Gate, na Filístia. São elas melhores do que os seus dois reinos? O território delas é maior do que o de vocês? 3 Vocês acham que estão afastando o dia mau mas na verdade estão atraindo o reinado do terror. 4 Vocês se deitam em camas de marfim e se espreguiçam em seus sofás. Comem os melhores cordeiros e os novilhos mais gordos. 5 Dedilham em suas liras como Davi e improvisam em instrumentos musicais. 6 Vocês bebem vinho em grandes taças e se ungem com os mais finos óleos, mas não se entristecem com a ruína de José. 7 Por isso vocês estarão entre os primeiros a ir para o exílio; cessarão os banquetes dos que vivem no ócio.”).
- Oséias vai denunciar as alianças com nações que provocam
dependência, exploração econômica e orpessão (07:08-12 e 12:09)
- Jeremias evoca o Ano do Jubileu (34:08-18 nos versos 16-18 ressalta
a infidelidade dos israelitas)
- Isaias modela a sua profecia de restauração no fato e nos detalhes do êxodo (11:15; 41:17ss; 43:02e16-20; 44:26ss; 48:20ss; 49:10; 51:09ss; 52:11ss; 63:11ss)
Agora cabe aqui um
destaque todo especial:
Conclusões finais:
- Evangelho, escatologia e ética são inseparáveis, pois “pelo fruto
conheceremos”
- Somos salvos pela fé, não por uma fé sem obras (acreditar
simplesmente), mas pela fé que atua pelo amor (Carta aos Gálatas 05:06)
- Somos chamados a atenção para realizar o bem e ser, então, bênção
às pessoas (Carta aos Gálatas 06:09)
- Na 1ª Carta de João 02:29; 03:07,10,16-18 determina quem são os
filhos de Deus
- Carta de Tiago 02:17 diz que a fé sem obras é morta em 04:17 anuncia que peca quem sabe que deve fazer o bem e não faz.
- Pense no retrato da comunidade daqueles que pertencem ao Reino de
Deus descrito no Livro dos Atos dos Apóstolos 02:42 "Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e àcomunhão, ao partir do pão e às orações. 43 Todos estavam cheios de temor, e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos. 44 Todos os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. 45 Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade.46 Todos os dias, continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade decoração, 47 louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo. E o Senhor lhes acrescentava todos os dias os que iam sendo salvos.";
Essa
tradição de promoção do bem-estar (da shalom - a paz que não é simplesmente
a ausência de guerra, mas o bem-estar em todas as dimensões do ser humano) começa no Jardim do Éden, mas isto se perde com a desobediência. Para salvar o
homem Deus inicia um projeto em Abraão, projeto que avança nas conseqüências do
Êxodo, é sustentado pelos profetas, assumido por Cristo, e deve ser praticado
pela Igreja e se realizará cabalmente (por completo) no fim de tudo onde “não haverá maldição nenhuma” (Apocalipse 22:03).


Nenhum comentário:
Postar um comentário