24/02/2015

COMUNIDADE DE FÉ, COMUNIDADE DE MEMÓRIA

Salmo 81
Cantem de alegria a Deus, nossa força; aclamem o Deus de Jacó! Comecem o louvor, façam ressoar o tamborim, toquem a lira e a harpa melodiosa.
Toquem a trombeta na lua nova e no dia de lua cheia, dia da nossa festa; porque este é um decreto para Israel, uma ordenança do Deus de Jacó, que ele estabeleceu como estatuto para José, quando atacou o Egito. Ali ouvimos uma língua que não conhecíamos.
Ele diz: "Tirei o peso dos seus ombros; suas mãos ficaram livres dos cestos de cargas. Na sua aflição vocês clamaram e eu os livrei, do esconderijo dos trovões lhes respondi; eu os pus à prova nas águas de Meribá. (Pausa)
"Ouça, meu povo, as minhas advertências; se tão-somente você me escutasse, ó Israel! Não tenha deus estrangeiro no seu meio; não se incline perante nenhum deus estranho. Eu sou o Senhor, o seu Deus, que o tirei da terra do Egito. Abra a sua boca, e eu o alimentarei.
"Mas o meu povo não quis ouvir-me; Israel não quis obedecer-me.” Por isso os entreguei ao seu coração obstinado, para seguirem os seus próprios planos.
"Se o meu povo apenas me ouvisse, se Israel seguisse os meus caminhos, com rapidez eu subjugaria os seus inimigos e voltaria a minha mão contra os seus adversários! Os que odeiam o Senhor se renderiam diante dele, e receberiam um castigo perpétuo. Mas eu sustentaria Israel com o melhor trigo, e com o mel da rocha eu o satisfaria".
Comunidade de Fé, Comunidade de Memória

Vamos pensar na Comunidade de Fé através deste Salmo 81. Muito provavelmente a festa que o salmista se refere no Salmo é a “Festa das Cabanas” (ou dos Tabernáculos/ das Tendas) que relembrava o cuidado de Deus pelo seu povo durante a peregrinação no deserto (Levítico 23,43). Servia de festa de ação de graças pela colheita (Levítico 23,39-40; Deuteronômio 16, 13-15) e marcava a conclusão do calendário anual de festas religiosas que começava com a Comemoração da Páscoa e os Pães sem fermento 6 meses antes (Êxodo 23,14-17; Levítico 23; Deuteronômio 16,16). O primeiro dia deste mês, que começa com a Lua Nova, era comemorado com trombetas e, posteriormente, veio a ser conhecida como o Ano Novo, visto que este mês marcava o fim da colheita e o início da estação de chuvas quando um novo ciclo de plantio se iniciava.
        Esta festa tinha grande importância: “que os descendentes de vocês saibam que eu [Deus] fiz os israelitas morarem em tendas quando os tirei da terra do Egito. Eu sou o Senhor, o Deus de vocês” (Levítico 23,43). Nela, de 7 em 7 anos a Lei era lida diante de toda a nação para o povo “aprender a temer o Senhor, o seu Deus, enquanto vocês viverem na terra da qual tomarão posse quando atravessarem o Jordão” (Deuteronômio 31,9-13) e isto é percebido nos versos 8-10. Devemos salientar que o povo não cumpriu de maneira correta estas orientações. Como relata o Livro de Neemias, o povo comemorou esta festa de maneira correta somente nos tempos de Josué, filho de Num, que substituiu Moisés na liderança do povo; é somente após o retorno do exílio (estamos falando de mais ou menos 960 anos) que o povo, após estudo apurado da Palavra de Deus (Neemias 8,2-3.8-9.13-14.17-18), volta a celebrar esta festa de maneira correta: “Todos os que tinham voltado do exílio construíram tendas e moraram nelas. Desde os dias de Josué, filho de Num, até aquele dia, os israelitas não tinham celebrado a festa dessa maneira. E a alegria deles foi muito grande.” (Neemias 8,17).
        A comunidade de Jesus de Nazaré também é uma comunidade de Memória. “Façam isto em memória de mim” (Lucas 22,19c), disse nosso Mestre por ocasião da instituição da Ceia. Uma das principais imagens do Novo Testamento que ilustra a vida nova que o Reino de Deus anuncia é a mesa para qual o Senhor Jesus convida todos os seus discípulos. A vida comunitária cristã encontra na mesa da refeição seus momentos mais expressivos. Um convite para se sentar à mesa de alguém é um convite à intimidade com o anfitrião e demais convidados à mesa. Intimidade com Jesus e uns com os outros. Por isso não podemos reduzir a vida cristã a um conjunto de práticas devocionais, preceitos morais ou regras doutrinárias. Mas, além disto, a vida cristã também é, nos relacionamentos que temos com nossos irmãos que se sentam conosco à mesa, aquilo que nos move quando o fracasso nos paralisa pelo encorajamento mútuo Hebreus 3,12-14; fôlego que anima a existência pelo repeito mútuo (Hebreus 10,24; Filipenses 2,3) que nos tira de uma condição autocentrada, para valorizar o nosso irmão.

Não sejamos negligentes em cumprir esta ordem de Jesus tal como o povo de Israel foi em relação a comemoração da “Festa dos Tabernáculos” a ponto de ficar fechado às Suas bênçãos (versos 10-16). Somos convidados constantemente a lembrar da mesa do Senhor e nos assentar nela com nossos irmãos a fim de saborearmos a graça, o amor, a compaixão, a misericórdia, a solidariedade, a igualdade, a fraternidade, a dignidade... que Jesus nos concede fazendo de todos nós irmãos.
Mantenhamos firme esta memória. O preço foi alto, o preço foi de sangue e este é o projeto de Deus para homem. 

16/02/2015

O SEGUIMENTO DO CAMINHO

“Respondeu Jesus: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim".” Evangelho de João 14:6
De acordo com o Livro de Atos dos Apóstolos, o seguimento de Jesus de Nazaré foi conhecido como o seguimento do “Caminho” (At 9,2; 19,9.23; 22,4; 24,14.22), foi desta maneira que o grupo de discípulos se auto nominavam. Poderia ser os “da Verdade”, ou “da Vida” tal como as identificações que Jesus faz de si, mas a opção foi pela adoção da primeira identificação e assim ficaram conhecidos “os do Caminho” causando “grande alvoroço” (At 19,23 ARA) e transformações na sociedade. Esta adoção se dá pelo fato de está mais próxima da maneira como Jesus desenvolveu o seu ministério, ele foi pelas ruas, pelas praças, “pelas cidades e povoados proclamando as boas novas do Reino de Deus. Os Doze estavam com ele” (Lucas 8,1).
O seguimento de Jesus é uma categoria que pode ajudar cristãos homens e mulheres e igrejas a superar certa vivência eclesial e um espiritualismo marcado por intenso individualismo e crescente mercantilismo. O ministério de Jesus foi caracterizado por um “estar com o povo”. Estar com pessoas significa oferecer algo de si, mas também trazer consigo algo do outro e Jesus, quando escolhe livremente habitar em meio a realidade humana, decide também experimentar plenamente essa realidade não fugindo das realidades mais duras e tristes do seu tempo.

Assim, em seu exemplo, Jesus propõe aos seus discípulos e discípulas uma “maneira de ser no mundo” que tem por característica traços de relacionamento, de troca mútua, de mútuo enriquecimento que nasce do convívio sincero e fraterno. Essa proposta foi bem assimilada pelos apóstolos que também saíram ao encontro “das gentes” com autoridade e poder para pregar o Reino de Deus e manifestá-lo na vida das pessoas (Lucas 9,1-2).
Somos chamados para ir fazer discípulos. Para ir ao encontro do outro. Logo, a nossa espiritualidade deve extrapolar o paradigma Culto-Templo-Clero-Domingo, dado que Culto não é só o que fazemos aos Domingos e Quartas-feiras, mas é a nossa vida; Templo não são mais pedras e tijolos que constituem um edifício, mas o nosso corpo (1 Co 6,19); Clero não é mais um grupo especial, mas somos uma “nação de sacerdotes” (1 Pe 2,9); e Domingo, do latim dies Dominicus (dia do Senhor), não é o único dia em que se deve viver o cristianismo, mas é tão somente o dia em que celebramos, juntamente com todos os irmãos de nossa Comunidade de Fé, ao nosso Deus, pois dia do Senhor é todo o dia.
Nossa espiritualidade deve ser assinalada pela vivência de uma vida inteira conduzida pela presença renovadora do Espírito e não por um espiritualismo reduzido as dimensões intimistas de um indivíduo em fuga da vida concreta e do encontro com o outro. Assim, o seguimento de Jesus é uma experiência do caminho e no caminho, dado que se faz de gente dentro de suas interações e realidades concretas que vão sendo chamadas por Jesus e têm seu aprendizado retirado de um caminhar a vida com Jesus – o Caminho.

Abração!
Pr. Pedro Barbuto
Pastoral para o Boletim da Primeira Igreja Batista em Vila da Penha em 08/Fevereiro/2015.


13/02/2015

LEVÍTICOS

Toda a citação bíblica feita assim: "XX,XX" refere-se ao próprio Livro abordado.
A palavra de ordem neste livro é SANTIDADE. “Sejam santos, porque eu sou santo” (11,44), a palavra santo aparece mais vezes aqui do que em qualquer outro livro – Israel deve ser totalmente consagrado a Deus e isto abrange todos os aspectos da sua vida, fazendo que com esta tivesse em seu cotidiano certo traço cerimonial. Santidade e pureza são expressas pela perfeição dos animais que eram usados para o sacrifício (1,3;10) e até pelo asseio e higiene, que passa pela observação do mofo numa casa (14,33ss). Isto é muito interessante porque gera no povo uma ideia de realmente não se contaminar seja espiritualmente ou fisicamente o que tem efeitos positivos. Na Idade Média, por exemplo, por ocasião da Peste Negra, que por muitos era atribuída aos judeus (numa postura antissemita); entretanto, sua incidência era bem menor entre os judeus. Hoje, porém, se sabe que isto se deve aos costumes de higiene difundidos entre eles em virtude de orientação como as encontradas em Levíticos. Este texto é imprescindível a esta comunidade que precisa de regras para adorar, para ofertar, para se portar como povo de Deus.
Há apontamentos interessantes sobre o significado do sacrifício solene do Dia da Expiação (capítulo 16), com destaque a substituição (16,21). Apontamentos que nos direcionam para Cristo o “cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Evangelho de João 1,29) e sua morte substitutiva (Profeta Isaías 53,7;10 – Evangelho de Mateus 27,12-14). Vamos agora para algumas perguntas e respostas que vão nos ajudar a fazer um “passeio de balão” pelo 3º Livro do Pentateuco:

11/02/2015

FOGO DE PALHA

Mensagem entregue a Primeira Igreja Batista em Vila da Penha em 08/Fevereiro/2015 - Celebração da Noite. Disponível em vídeo também.

1 Quando o Senhor trouxe os cativos de volta a Sião, foi como um sonho. 2 Então a nossa boca encheu-se de riso, e a nossa língua de cantos de alegria. Até nas outras nações se dizia: "O Senhor fez coisas grandiosas por este povo". 3 Sim, coisas grandiosas fez o Senhor por nós, por isso estamos alegres.
4 Senhor, restaura-nos, assim como enches o leito dos ribeiros no deserto.
5 Aqueles que semeiam com lágrimas, com cantos de alegria colherão. 6 Aquele que sai chorando enquanto lança a semente, voltará com cantos de alegria, trazendo os seus feixes. (Salmo 126)

O Salmo 126 é, por um punhado de biblistas, posicionado como um canto criado no tempo em que Israel volta do cativeiro da babilônia após a ascensão do Império Persa.
O clima é de grande alegria, após 70 anos vivendo em terra estrangeira, os judeus podem retornar a sua terra. O clima deste salmo é bem diferente do Salmo 137, 1 Junto aos rios da Babilônia nós nos sentamos e choramos com saudade de Sião. 2 Ali, nos salgueiros penduramos as nossas harpas; 3 ali os nossos captores pediam-nos canções, os nossos opressores exigiam canções alegres, dizendo: "Cantem para nós uma das canções de Sião! "
4 Como poderíamos cantar as canções do Senhor numa terra estrangeira? 5 Que a minha mão direita definhe, ó Jerusalém, se eu me esquecer de ti! 6 Que a língua se me grude ao céu da boca, se eu não me lembrar de ti, e não considerar Jerusalém a minha maior alegria!
Mas vamos recordar o que realmente aconteceu quando o povo retornou da Babilônia?

09/02/2015

IGREJA, A COMUNIDADE DE FÉ DE JESUS DE NAZARÉ

João 17, "20 Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, 21 para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. 22 Dei-lhes a glória que me deste, para que eles sejam um, assim como nós somos um: 23 eu neles e tu em mim. Que eles sejam levados à plena unidade, para que o mundo saiba que tu me enviaste, e os amaste como igualmente me amaste.”
            Este trecho da denominada “oração sacerdotal de Jesus” é de arrepiar; é de se emocionar se pensarmos que temos aqui o nosso mestre Jesus orando pela unidade, comunhão e fraternidade da PIBVP. Sim, é isto mesmo, da PIBVP, de nós que estamos aqui em Igreja. Jesus roga: “também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles”.
            Neste ano de 2015, iniciamos na Escola Bíblica Dominical o estudo “A Vida na Comunidade da Fé” que está fundamentado no livro de Salmos e nas cartas de Paulo aos irmãos de Corinto. Cada vez que você for ao texto bíblico da lição e ao próprio estudo da mesma, vá com a seguinte questão na cabeça: “Qual aplicação eu posso extrair daqui para a vida em igreja, para vida na comunidade da fé?”.

            A Igreja tem esta vocação de ser constituída de gente que gosta de gente e que cuida de gente. Gente que ama/serve ao próximo como a si mesmo tal como sua Cabeça (Jesus) orienta em Lucas 10,25-28. Cristianismo, sem comunidade, pode até ser entendido como uma filosofia de vida. Mas, no projeto de Deus, a vida comunitária é fundamental!
            A comunidade de Jesus, a partir da “Lei Regia” (Tiago 2,8), é a comunidade do “uns com os outros”, “uns dos outros”, “uns pelos outros”. E a chave para a vivência e prática desta vocação encontra-se nos “relacionamentos” que devemos cativar. Para construirmos relacionamentos de maneira relevante precisamos que cada um se esforce em ser um verdadeiro “seguidor do Caminho” (At 24,14) e, assim, seremos uma comunidade que extrapola o paradigma “culto-clero-Domingo-templo”, mas falaremos com mais detalhes disto na semana que vem. Até lá! ;)
Abração, e que Deus nos abençoe!

Pr. Pedro Barbuto
Pastoral para o Boletim da Primeira Igreja Batista em Vila da Penha em 01/Fevereiro/2015