17/01/2015

ÊXODO - Parte 2

A História continua...
Com a entrada do pecado no mundo o ser humano gera uma das piores expressões de sua queda: a opressão da escravidão. A escravidão é um projeto de morte. O povo de Israel cresce, torna-se numeroso, o que gera medo de uma insurreição, logo a solução dos egípcios é simples – oprimir para conter a vida (1,09-11;15;22). Contudo, o opressor não consegue fazer com a vida sucumbisse e, através de mulheres valorosas, uma expressão da vida entra na casa do opressor (2,10). Isto ocorre porque, na contrapartida do projeto de morte pela opressão, há o projeto de Deus pela libertação. Deus, o grande Eu Sou (3,14), ouve o clamor do seu povo e responde saindo ao seu encontro. Fracassada a possibilidade legal e diplomática de uma saída em paz, Deus se utiliza da força para resgatar seu povo (6,1). Assim, o opressor é desmascarado em seus artifícios (8,14-15a; 9,11), ele até reconhece o poder de Deus (8,24-25), mas apela para violência (10,28) o que não adianta, pois a vitória final é dada por Deus ao seu povo (12,29-36). Deus estava se fazendo conhecer melhor não somente para o seu povo, mas para além dele e se utiliza de sinais miraculosos tanto para os de fora (10 pragas) como para o seu povo (travessia do Mar Vermelho, maná do céu, dentre muitos outros). Liberdade é diferente de libertinagem, por isso Deus estabelece as bases e as regras para esta nova nação (caps. 19ss) e lhes dá uma constituição (20,3-17). Interessante o cuidado em defender os pobres (22,20-26), da prática da injustiça (23,1-9).

·         Não podemos considerar a Lei como sendo algo que diz o que se pode o que não se pode fazer. Trata-la assim, nos levará a um legalismo sem vida. Para se pensar sobre a Lei pensamos em Deus - ele é criador de todas as coisas, logo ele sabe como tudo funciona, ele sabe como manter a ordem e a justiça. A Lei, então, procura ser este guia para ensinar a humanidade a ter discernimento, dando a nós uma orientação para a manutenção vida, da paz, da alegria, tornando-nos sábios (Salmos 19,11ss). Assim, a Lei é fundamental para que se tenha ordem, justiça e progresso em qualquer povo. Selecionamos algumas leis (fora “dos 10”) encontradas no Êxodo que nos têm uma utilidade bem prática para nossos dias:
  • Preceitos jurídicos acerca da proteção dos fracos (22,21-24) – interessante entender a fundamentação “pois vocês foram estrangeiros no Egito” (v.21). Observe que o comportamento social exigido não é justificado pela ideia de humanitarismo, mas pela lembrança da história de opressão vivida por Israel. Essa fundamentação se repete várias vezes no direito veterotestamentário (23,9; Lv 19,34; Dt 10,19);
  • “Amor ao inimigo” (23,4-5) – Bom, no mínimo, dado a presença de animais nos exemplos, tem-se a instrução de não deixar que inimizades comprometam o cuidado que se tem que ter com outros seres vivos. Mas o que temos de mais interessante é a conduta de honestidade e de cuidado cobradas em relação aos pertences de um inimigo. Essa passagem nos remete a Rm 12,1 “Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem”.
  • Direito dos animais (23,12; outras expressões em Dt 22,6; 25,4) – Sim, Deus se preocupa com o boi! O direito aqui proíbe explorar sem escrúpulos o animal que trabalha para o ser humano, ele tem que receber um tratamento adequado e digno pelo seu trabalho. Paulo, em 1Co 9,9 e ITm 5,18, remove a literalidade deste texto aplicando-o para o direito do trabalhador ao seu salário. Ok, está certo o Apóstolo; mas até que essa discussão em torno do direito dos animais hoje é bem “aquecida”.
  • Determinações legais para a preservação de processos justos (23,1-3.6-9) – Constatamos a importância do processo jurídico no Antigo Israel nesses parágrafos dedicados ao tema. Este texto é normalmente denominado como “espelhos dos juízes”, fornecendo normas de conduta. O acento pela justiça é notável; não se deve favorecer uma pessoa, mesmo que ela esteja numa condição inferior (v.3) nem limitar o seu direito (v.6), o que em geral representa um perigo maior. No verso 8 há uma critica de um câncer bem conhecido de nós brasileiros – a corrupção, inclusive no meio jurídico.


Estes são apenas exemplos de como o texto é relevante para discussões e debates atuais em nossa sociedade.

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