14/11/2013

SOMOS UM, SOMOS UNS DOS OUTROS

Mensagem entregue a Primeira Igreja Batista em Vila da Penha (13/Nov/2013)

João 17, "20 Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, 21 para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. 22 Dei-lhes a glória que me deste, para que eles sejam um, assim como nós somos um: 23 eu neles e tu em mim. Que eles sejam levados à plena unidade, para que o mundo saiba que tu me enviaste, e os amaste como igualmente me amaste.

            Este trecho da denominada “oração sacerdotal de Jesus” é de arrepiar, emocionar se pensarmos que temos aqui o nosso mestre Jesus orando pela unidade nossa. Sim, de nós que estamos aqui. Ele roga “também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles” (discípulos atuais/vivos no momento da oração).
            A Igreja tem esta vocação de ser constituída de gente que gosta de gente / que cuida de gente. Gente que ama/serve ao próximo como a si mesmo tal como sua cabeça orienta em Lucas 10:25-28 “25 Certa ocasião, um perito na lei levantou-se para pôr Jesus à prova e lhe perguntou: "Mestre, o que preciso fazer para herdar a vida eterna? " 26 "O que está escrito na Lei? ", respondeu Jesus. "Como você a lê? " 27 Ele respondeu: " ‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento’ e ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’". 28 Disse Jesus: "Você respondeu corretamente. Faça isso, e viverá"

“Faça isso, e viverá” Faça isso e tenha um sentido na sua vida!
  1. Como temos vivido essa dinâmica da busca de ser um, um só corpo?
  2. Como é seu relacionamento?
  3. Encontros, visitas, ajuda nas dificuldades, consolo?
  4. As pessoas lhe conhecem, ou só você é mais que uma nuca à frente de alguém? Não que ninguém lhe dê atenção, mas você está disposto a se abrir e compartilhar suas dores, seus temores, seus pecados...
            Para se viver o que Jesus de Nazaré pede aqui nesta oração temos que ir além do paradigma “culto-clero-domingo-templo”.
            Isto porque...

I – A COMUNIDADE DE JESUS VALORIZA OS RELACIONAMENTOS
  1. Amem-se uns aos outros” Jo 15,12 (Jesus); Paulo dá uma direcionada melhor nisto Rm 12,10 “dediquem-se amor fraternal”; 1Pe 4,8 aponta para a qualidade “amem-se sinceramente”;
  2. “Portanto, aceitem-se uns aos outros, da mesma forma como Cristo os aceitou, a fim de que vocês glorifiquem a Deus.” Rm 15,7 receba com agrado, aprenda a lidar, procure qualidades;
  3. Saúdem uns aos outros com beijo santo.” Rm 16,16 / 1Pe 5,14 Cumprimenta ao irmão;
  4. “a fim de que não haja divisão no corpo, mas, sim, que todos os membros tenham igual cuidado uns pelos outros.” 1 Co 12,25 Escute à todos, não faça acepção de pessoas; Agora a coisa vai ficar um pouco mais difícil para muitos...
  5. Sujeitem-se uns aos outros, por temor a Cristo.” Ef 5,21 Respeito, honra, conferir dignidade. Permita-se ser cuidado/discipulado.
  6. “2 Sejam completamente humildes e dóceis, e sejam pacientes, suportando uns aos outros com amor. 3 Façam todo o esforço para conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. 4 Há um só corpo e um só Espírito, assim como a esperança para a qual vocês foram chamados é uma só; 5 há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, 6 um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos.” Ef 4:2-6 dê o suporte, trabalhe em equipe, não haja sozinho
Este último aspecto irá nos apontar um outro aspecto presente na comunidade “do caminho” (como os cristãos eram conhecidos antes de se denominarem cristãos At 9,2; 19,9; 24,22 que aponta para a maneira dinâmica que se realizava o movimento de Jesus) que é...

II – OS DO CAMINHO SERVEM UNS AOS OUTROS
  1. Gálatas 5,”13 Irmãos, vocês foram chamados para a liberdade. Mas não usem a liberdade para dar ocasião à vontade da carne; pelo contrário, sirvam uns aos outros mediante o amor. 14 Toda a lei se resume num só mandamento: "Ame o seu próximo como a si mesmo". 15 Mas se vocês se mordem e se devoram uns aos outros, cuidado para não se destruírem mutuamente.” Esteja atento a necessidade do outro e não seja grosseiro (morder);
  2. Gálatas 6:2 “Levem os fardos pesados uns dos outros e, assim, cumpram a lei de Cristo” ajude ao que tem dificuldade;
  3. 1 Pedro 4:9 “Sejam mutuamente hospitaleiros, sem reclamação.” A expressão “à igreja que se reúne em sua casa” é comum no NT (Fl 1,2; Cl 4,15; 1Co 16,19; Rm 16,5) e como está em relação ao seu vizinho? Junto com seus irmãos você tem somado forças para fazê-lo conhecer a Cristo? Seja hospitaleiro (cada casa, uma igreja; cada membro um ministro).
  4. Meus irmãos, orem! Tiago 5:16 “Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz.” Precisamos orar para que a Igreja do Senhor chegue a este nível de intimidade entre os membros, que gere esse cumplicidade.

CONCLUSÃO
Minha oração hoje é fazer coro com Jesus pedindo por nós,
  1. para que sejamos um,
  2. para que sejamos relevantes,
  3. para que sejamos um sinal histórico do Reino de Deus,
  4. para que sejamos aquele ajuntamento que caía na graça de todos povo, assim acrescentava o Senhor aqueles que ia sendo salvo;
  5. para que o mundo saiba que tu me enviaste (Deus enviou seu filho), e os amaste como igualmente me amaste (que Deus os ama como a seu próprio filho Jesus).

25/09/2013

EU, EU MESMO E DEUS

Mensagem entregue a PIBVP (Primeira Igreja Batista em Vila da Penha) em 22/09/2013 pela manhã.

Talvez seja estranho para você que poste algo que parece enaltecer a primeira pessoa do singular (EU). Isto porque sempre prioriso a primeira pessoa do plural (NÓS) já que, para mim, não se dá para viver o Cristianismo fora de uma proposta que seja comunitária que é a Igreja – o projeto e Deus para que se consiga ter sinais históricos do Reino de Deus na Terra. Bom, mas hoje gostaria de falar aos corações individualmente compartilhando este poste com você.
Diferente do que diz a teologia da prosperidade, que promete felicidade intensa, júbilo permanente e um estado constante de êxtase e progresso espiritual; na verdade, o cristão está sujeito a crises e oscilações em sua fé e espiritualidade.
Antes de entrarmos mais no assunto, eu gostaria que você prestasse atenção na letra dessa música (“Acordo” de Stênio Marcius do álbum “Canções a meia noite”)

Os salmos têm sido uma fonte muito rica de exemplos de homens que expressaram com muita sinceridade suas frustrações e decepções diante de Deus.Tomemos como exemplo  o Salmo 42.

A CRISE
 3 “Minhas lágrimas têm sido meu alimento de dia e de noite [...] 4 choro angustiado [...] 10 os meus ossos sofrem agonia mortal”
Pinçando algumas expressões do salmista vemos claramente um quadro de crise:
1.     A tristeza dá o tom dominante e o choro é uma presença contante.
2.     O apetite se foi, uma vez que o salmista agora se alimente de lágrimas.
3.     Ele demonstra uma sensibilidade a flor da pele, quando a simples lembrança de outros tempos o faz chorar.
4.     Há um abatimento geral e todo seu corpo sofre a sua angustia.

A NATUREZA DA CRISE
Mas é quando olhamos mais atentamente os versos 3 e 4 que percebemos a natureza espiritual desta crise:
3 “Minhas lágrimas tem sido meu alimento de dia e de noite, pois me perguntam o tempo todo: “Onde está o seu Deus”?” 4 Quando lembro dessas coisas, choro angustiado. Pois costumava a ir com a multidão, conduzindo a procissão à Casa de Deus, com cantos de alegria e de ação de graças em meio a multidão que festejava.

            Temos aqui a descrição de um crente em crise. Alguém cuja a fé está extremamente abalada. No centro de sua angustia esta uma pergunta que vem de fora, mas encontra eco dentro do seu coração: "Onde está o seu Deus?" A dor que esta pergunta provoca no salmista somente se justifica pelo fato de que em seu coração ele faz o mesmo questionamento.

O ANSEIO
A crise se agrava, uma vez que o salmista sente falta de algo que não pode ser entendido pelos descrentes, ele sente falta da comunhão de seus irmãos e da alegria na presença de Deus. Neste sentido, o crente em crise sofre mais que um descrente. Ele tem em seu coração a memória de um anseio que só pode ser preenchido pelo próprio Deus, como expressa no início:
 (1-2) 1 Como a corça anseia por águas correntes, a minha alma anseia por ti, ó Deus. 2 A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo. Quando poderei entrar para apresentar-me a Deus?

A REAÇÃO
Assim, o salmista angustiado busca reagir a sua crise através de dois exercícios espirituais.
1.     Ele conversa consigo mesmo e;
2.     Ora ao seu Deus.
Vamos nos ater aqui somente ao primeiro exercício, a importância de conversar consigo mesmo.

5 “Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está assim tão perturbada dentro de mim? Ponha a sua esperança em Deus! Pois ainda o louvarei; ele é o meu Salvador e o meu Deus.”

Neste momento, o salmista não está falando com Deus, mas falando com a sua alma, a narrativa parece  demonstrar que Deus permanece em silencio neste processo, ele não entra nesta conversa. Aliás, um dos sintomas de uma crise espiritual é a percepção do silencio de Deus. Neste momento onde Deus parece distante preciso agora chamar a minha alma a razão.

Lloyd Jones comenta ao expor este salmo que "falar com o nosso eu é diferente de deixar que o nosso eu fale conosco", ou seja se deixarmos nossa alma amargurada falar conosco, ela provavelmente repetirá as palavras venenosas e malignas, "Onde está o seu Deus?", mas quando decido falar a minha alma, posso exorta-la: "Ponha a sua esperança em Deus, pois ainda o louvarei!"

"Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está assim tão perturbada dentro de mim?" O salmista permanece se questionando, se há mesmo razão para tanta tristeza e angustia.
A ansiedade possui o poder de tomar conta do nosso coração mesmo que não existam razões para isto. A ansiedade é como um medo sem objeto definido, é a apreensão sem um motivo exato; é a falta daquilo que não sabemos exatamente o que é.
Em nossa crise não enxergamos as coisas com elas de fato são, e também não conseguimos enxergar a ação de Deus em nossas vidas, por isso precisamos chamar a atenção do nosso coração para que ele olhe na direção certa.
Questionar a si mesmo é um exercício espiritual fundamental na caminhada cristã, como parafraseou o poeta Stenio Marcius:

"Puxa uma cadeira ó minh´alma
Que eu quero te perguntar
Porque me roubas a calma
Me botas tristeza no olhar?
Vamos entrar num acordo,
Vida tranquila viver.
Lembra daquilo que o mestre falou:
A minha graça te basta!"

Agora farei algumas perguntas “que equilibram as emoções" são perguntas bíblicas e terapêuticas, que o cristão em crise deve fazer a sua alma:

“Que diremos, pois, diante destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?” Romanos 8,31
Qual a razão de tanto medo e ansiedade, se de fato entendo que Deus está do meu lado?
Existe alguém ou alguma coisa que seja maior do que Ele?

“Aquele que não poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, porventura, como não nos dará com ele, e de graça, todas as coisas?” Romanos 8,32
Se Deus demonstrou por mim um amor capaz de dar seu próprio filho, poderia eu ousar duvidar deste amor? Existe alguma coisa da qual sinto falta que seja maior do que esta dadiva de Deus?

“Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica.” Romanos 8,33
Se de fato fui perdoado por Deus, porque ainda sinto o peso da culpa? Porque ainda me sinto acuado pelos meus próprios pecados?

“Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome ou nudez, ou perigo, ou espada?” Romanos 8,35
Por que me sinto só, uma vez que as inúmeras circunstancias adversas somente servem para me aproximar ainda mais de Cristo?

CONCLUSÃO
Duas vozes ecoam no coração de um cristão em crise:
1.     uma voz precipitada e rancorosa insiste em perguntar, "onde está o seu Deus";
2.     outra pacientemente convida,  "ponha a sua esperança em Deus! Pois ainda o louvarei; ele é o meu Salvador e o meu Deus." 


É preciso decidir a qual voz atenderemos.

12/08/2013

PROVAÇÃO E TENTAÇÃO

(Tiago 1,12-16)

1 BEM-AVENTURADO, COROA, AMOR A DEUS                
Por que é “bem-aventurado” ou “feliz” o que “suporta” a tentação?
                Porque lhe é dada a “Coroa da Vida”.
Ideia inspirada na coroa de louros que o atleta recebia nas olimpíadas gregas. “Os atletas correm por uma coroa perecível, nós por uma imperecível” (I Co 09:25)
E, quando o Grande Pastor aparecer, vocês receberão a coroa gloriosa, que nunca perde o seu brilho (imarcescível)”. (I Pe 5:4)
E agora está me esperando o prêmio da vitória, que é dado para quem vive uma vida correta, o prêmio que o Senhor, o justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos os que esperam, com amor, a sua vinda.” (2 Tm 4:8)
A mesma promessa é feita para a Igreja de Esmirna no Apocalipse (2:10 - LER).
1ª CONCLUSÃO A provação visa ao prêmio, por isso é bem-aventurança. Superar a prova (guardando os mandamentos de Deus) é prova de amor a Deus “aquele que  me ama, guarda os meus mandamentos” (João 14:21 e Dt 5:10)

2 DEUS NÃO TENTA

2.1 Deus não tenta pois não deseja o mal.

Observe a diferença entre esses dois textos: II Sm 24:1 (Deus) I Cr 21:1 (Satanás)
Em outra ocasião, o SENHOR ficou muito irado com o povo de Israel e levou Davi a prejudicá-los. Deus disse a Davi: - Vá e faça a contagem do povo de Israel e de Judá. 2 Então Davi deu a Joabe, o comandante do seu exército, a seguinte ordem: - Vá com os seus oficiais por todas as tribos de Israel, do Norte ao Sul do país, e faça a contagem do povo. Eu quero saber quantos somos.  3Mas Joabe respondeu ao rei: - Que o SENHOR, nosso Deus, faça o povo de Israel cem vezes mais numeroso do que é agora, e que o senhor viva para vê-lo fazer isso! Mas por que o senhor quer fazer essa contagem?
Satanás quis criar problemas para o povo de Israel e por isso levou Davi a fazer uma contagem do povo.  2           Davi deu a Joabe e aos outros oficiais a seguinte ordem: - Vão por toda a terra de Israel, desde o Norte até o Sul, e façam a contagem do povo. Eu quero saber quantos somos.  3 Mas Joabe respondeu: - Que o SENHOR, nosso Deus, faça o povo de Israel cem vezes mais numeroso do que é agora! Ó rei, todos eles são seus servidores. Por que é que o senhor quer fazer isso e tornar culpada toda a nossa nação? 

Evolução da revelação fez com que o homem percebesse que a tentação não vem de Deus, mas de Satanás.

2.2 O pecado não vem de Deus, mas da liberdade humana quando opta pelo mal.

Assim, em Eclesiástico 15 :11 “Sobre a Liberdade humana: Não digas: "É o Senhor que me faz pecar", porque ele não faz aquilo que odeia. 12      Não digas: "É ele que me faz errar", porque ele não tem necessidade de um homem pecador. 13 O Senhor odeia toda espécie de abominação e nenhuma é amável para os que o temem 14 Desde o princípio ele criou o homem e o abandonou nas mãos de sua própria decisão. 15 Se quiseres, observarás os mandamentos: a fidelidade está no fazer a sua vontade. 16 Ele colocou diante de ti o fogo e a água; para o que quiseres estenderás a tua mão. 17 Diante dos homens está a vida e a morte, ser-te-á dado o que preferires. 18 É grande, pois, a sabedoria do Senhor, ele é todo-poderoso e vê tudo. 19 Seus olhos vêem os que o temem, ele conhece todas as obras do homem. 20 Não ordenou a ninguém ser ímpio, não deu a ninguém licença de pecar.

Salmos 7 “ 14 Vejam como os maus imaginam maldades. Eles planejam desgraças e vivem mentindo. 15 Armam armadilhas para pegarem os outros, mas eles mesmos caem nelas. 16 Assim eles são castigados pela sua própria maldade, são feridos pela sua própria violência.

Deve ser por isso que Jesus propõe umas alterações de interpretação da Lei no sermão do monte. Mateus 5
21 Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: "Não mate. Quem matar será julgado." 22 Mas eu lhes digo que qualquer um que ficar com raiva do seu irmão será julgado. Quem disser ao seu irmão: "Você não vale nada" será julgado pelo tribunal. E quem chamar o seu irmão de idiota estará em perigo de ir para o fogo do inferno.
27 - Vocês ouviram o que foi dito: "Não cometa adultério." 28 Mas eu lhes digo: quem olhar para uma mulher e desejar possuí-la já cometeu adultério no seu coração.


2.3 Tentação, gerada pelo desejo se autossuficiência (poder, riquezas, prazeres), de egoísmo. Desejo que é contrário ao projeto de Deus, por isso gera morte. Por que gera a morte? Romanos 7: 5 “Pois, quando vivíamos de acordo com a nossa natureza humana, os maus desejos despertados pela lei agiam em todo o nosso ser e nos levavam para a morte. 13 Então será que o que é bom me levou à morte? É claro que não! Foi o pecado que fez isso. Pois o pecado, usando o que é bom, me trouxe a morte para que ficasse bem claro aquilo que o pecado realmente é. E assim, por meio do mandamento, o pecado se mostrou mais terrível ainda.”
I Co 15:56 “O que dá à morte o poder de ferir é o pecado, e o que dá ao pecado o poder de ferir é a lei.”
Rm 6:23 “O Salário do pecado é a morte”

3 ATENÇÃO A LINGUAGEM
3.1 Recuperação da imagem da criação do homem, feito do pó da terra, ele é frágil.
Deus sopra o fôlego da vida e não da morte;
Deus concede vida e não tentação;
Tudo o que Ele cria e gera é bom. “E viu Deus que era bom

3.2 Palavras no gênero feminino
“desejo” ou “concupicência”     => EPITHYMIA
“pecado”                                            => HAMÁRTIA
As duas palavras no grego são femininas, por isso a linguagem utilizada pelo autor parecer descrever a sedução de uma mulher sobre um homem.
Desejo – “seduz e arrasta” Quando o homem cede gera e concebe (dá a luz) ao pecado;
Pecado – “amadurece” e gera a morte.
Ezequiel 18:10 “- Imaginem também que esse homem tenha um filho que rouba, mata e faz coisas 11 que o pai nunca fez. Esse filho come a carne dos sacrifícios oferecidos em templos proibidos e seduz mulheres casadas. 12 Engana os pobres, rouba e fica com aquilo que lhe foi dado como garantia de empréstimo. Ele vai a templos pagãos, adora ídolos nojentos 13 e empresta dinheiro a juros altos. Será que ele vai viver? Não! Não vai! Ele fez todas essas coisas vergonhosas e morrerá por causa delas. Esse filho será culpado da sua própria morte.  14 - Agora, imaginem que, por sua vez, esse filho tenha um filho. Esse filho vê todos os pecados que o pai cometeu, mas não segue o seu exemplo. 15 Não adora os ídolos dos israelitas, nem come a carne dos sacrifícios oferecidos em templos proibidos. Não seduz mulheres casadas 16 e não explora, nem rouba ninguém. Ele devolve aquilo que lhe foi dado como garantia de empréstimo. Dá comida a quem tem fome e roupa a quem está nu. 17 Ele se recusa a fazer o mal e não empresta dinheiro a juros altos. Guarda as minhas leis e obedece aos meus mandamentos. Ele não morrerá por causa dos pecados do pai. É certo que viverá.  18 O pai dele enganou, e roubou, e só prejudicou os outros. Por isso, morreu por causa dos seus próprios pecados.  19 - Mas vocês perguntam: "Por que é que o filho não sofre por causa dos pecados do pai?” A resposta é esta: é porque o filho fez o que era correto e bom. Ele guardou as minhas leis, e as seguiu cuidadosamente, e por isso é certo que viverá.”


2ª CONCLUSÃO Pecar é uma decisão única e exclusivamente humana, é nossa. Enquanto estiver fora do nós, a tentação pode ser resistida, mas se ela encontra resposta no nosso coração ai está o pecado. ? Por isso Cristo venceu a tentação, porque Nele não havia pecado. ?

27/06/2013

24/06/2013

POR UMA FRATERNIDADE SOLIDÁRIA

OBADIAS, POR UMA FRATERNIDADE SOLIDÁRIA.
Artigo apresentado na matéria de História da Literatura Bíblica (pós graduação em Teologia Bíblica e Sistemática Pastoral do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil)

INTRODUÇÃO

O texto escolhido para o presente artigo é o Livro do Profeta Obadias. Na percepção do autor este texto, muito pouco explorado pelas comunidades eclesiásticas, é embebido de muita história, profundo em suas lições apesar de tão pouco presente nos púlpitos dos ajuntamentos cristãos.
O texto basicamente trata de uma profecia contra Edom, mas sua abrangência não se restringe somente a este povo, pois no verso 15 o dia do Senhor vem para todas as nações. Logo, qual é a mensagem de Obadias para nós hoje?
Outras questões também estão presentes em Obadias tais como; Qual é, segundo o autor, a origem das desgraças? Qual é o escândalo e a denúncia do profeta? Qual é a expectativa que o escritor tem de uma justiça divina diante das más relações entre os povos?

UM BREVE HISTÓRICO DA RELAÇÃO ENTRE ISRAEL E EDOM

Antes de entrarmos no livro de Obadias se faz necessário rememorar as origens das discórdias entre israelitas/judaítas e edomitas. Afirma SCHÖKEL (2002, p. 2224) que “segundo a tradição, a relação entre Israel e Edom remonta os irmãos gêmeos Israel e Esaú (Gn 25-27), antecessores de ambos os povos”, filhos de Isaque, filho de Abraão. Segundo Gênesis 25,23 viveram os povos que descenderam de Esaú (Edom[1]) e Jacó (Israel[2] e Judá), sendo o primeiro por vezes posto em posição submissa e por vezes rebelde em relação ao segundo. São vários os desentendimentos e embates entre os povos:
1)     Nascem os filhos gêmeos de Isaque e Rebeca, onde há a promessa que o mais novo, Jacó seria maior e subjugaria o mais velho, Esaú (Gn 25,23);
2)     Esaú vende o direito de sua primogenitura chantageado por Jacó por um prato de comida após voltar de um dia de trabalho;
3)     A despeito do desejo de Isaque, mas em direção ao que havia sido prometido no nascimento dos gêmeos, Jacó com o auxílio de sua mãe Rebeca rouba a bênção que seria dada da Esaú, o que incita o ódio deste pelo seu irmão;
4)     Anos mais tarde há a reconciliação entre os dois, contudo cada um segue seu caminho, Jacó desce ao Egito e Esaú permanece na....;
5)     Na entrada do povo de Israel na terra, vindo do Egito, este pede passagem pelo território dos edomitas, pedido que foi negado com veemência e certa ameaça (Nm 20,18.20);
6)     Sob o reinada de Saul Israel faz guerra com os povos a terra, inclusive os edomitas e sai vitorioso (1 Sm 14,47);
7)     Sob o governo de Davi, os israelitas conquistam Edom que passa a ser território anexado à Israel (2 Sm 8,13-14);
8)     Edom se rebelou contra Israel quando reinava Salomão (1Rs 11,14.25)
9)     Edom conseguiu independência quando Judá estava sendo governada por Jorão (2Rs 8,20-22);
Se não bastasse todo esse histórico de atritos entre os dois povos, a relação entre as duas nações irmãs se estremeceu para sempre quando os Edomitas se aliaram a Babilônia por ocasião da queda de Jerusalém;
1)     Israel se revolta contra a Babilônia, que reage de forma branda levando Joaquim para o exílio, mas deixando a administração com Sedecias (2Rs 24).
2)     Uma nova revolta acontece e desta vez a Babilônia não age benevolentemente e destrói completamente a Jerusalém e leva o povo ao cativeiro (2Rs 25,8-10);
Como se vê no relato bíblico há uma forte presença e participação dos edomitas a época da queda de Jerusalém assim nos conta Obadias nos versos 11 ao 14, mas em outros textos esse fato é lembrado como em Amós 1,11 “Assim diz Javé: Por três crimes de Edom e pelo quarto, eu não vou perdoar: porque perseguiram seus irmãos com a espada, sem ouvir a voz do sangue fraterno, e porque acenderam a raiva para sempre, guardando ódio eterno.[3]” No registro dos Salmos 137,7-9 percebe-se todo o rancor que ficou da relação entre as nações:

“Javé, pede contas aos filhos de Edom no dia de Jerusalém, quando diziam: “Arrasem a cidade”! “Arrasem até os alicerces”! Ó devastadora capital de Babilônia, feliz quem lhe devolver o mal que fez para nós! Feliz quem agarrar e esmagar seus nenês contra o rochedo!”

O ódio demonstrado aqui da parte de um israelita em direção a um edomita encontra reciprocidade como afirma Ezequiel sobre Edom no capítulo 35 verso 5: “Você cultivou ódio eterno e entregou os israelitas ao fio da espada, no tempo que estavam na desgraça, no dia do castigo final.” De certo os edomitas tinham também seus motivos legítimos de ódio para com seus irmãos israelitas.
Não há muitas informações sobre o escritor do livro, segundo WlLSON (2006, p. 334) “se os profetas escritores pré-exílicos de Judá podem ser discernidos somente de forma vaga nos textos, os exílicos e pós-exílicos são quase que invisíveis.” Mas acredita-se que Obadias não está entre os deportados e é um dos que ficam na terra após a destruição de Jerusalém, “muitos biblistas afirmam que Abdias foi um poeta cultual ligado ao Templo de Jerusalém antes da sua destruição” (PAZDAM apud BERGANT & KARRIS, 2010, p. 117). Sendo assim, ele foi uma testemunha ocular do que ocorreu e um que sofre na pele as conseqüências da derrota. Segundo ROSSI (2006, p. 11), o profeta “não teoriza e muito menos faz abstrações acerca da situação dolorosa que vive seu povo. Não, suas palavras estão encravadas na paisagem de dor e destruição que ele próprio com seus irmãos viveram”.

AS ORIGENS DO MAL

            No texto de Obadias a profecia sobre Edom é drástica, não haverá escapatória e a graça de Deus não os alcançará, mas qual é o motivo interno que encaminhou Edom para este cenário de desgraça?
            O primeiro motivo nos faz lembrar Provérbios 16,18 “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda.” Isto está muito claro no texto de Obadias. Edom, devido a sua posição geográfica, demonstrava uma atitude arrogante (verso 3) como se nada ou ninguém fosse capaz de alcança-lo. Como relara ROSSI (2006, p. 16) Edom “está incrustado em zona montanhosa e escarpada, e é ainda cortado por vales estreitos e profundos... é território de difícil manobra militar e suas fortalezas são, praticamente, inacessíveis”.
            Esse sentimento levando a ruína para quem o cultiva já era do conhecimento do profeta. Quando os jebuseus estavam ocupando Jerusalém fizeram pouco caso do exército de Davi, garantidos pela localização geográfica da cidade como vemos na narrativa de 2 Samuel 5,6-7:

Davi marchou com os seus homens sobre Jerusalém, contra os jebuseus que habitavam o território. Os jebuseus disseram a Davi: “Não entre aqui, porque bastam os cegos e os aleijados para o repelir”. Era a maneira de dizer que davi não entraria na cidade. Mas Davi conquistou a fortaleza de Sião, que ficou sendo a cidade de Davi.

O destino de Edom não seria diferente dos jebuseus e sua arrogância seria o que os levaria ser “a menor das nações, dentre todas a mais desprezada” (verso 2).
O segundo motivo que o profeta aponta como origem a desgraça de Edom é a violência, como relata os versos 8 até o 10:

E não é que nesse dia – oráculo de Javé – eu vou acabar com os sábios de Edom, com a inteligência da montanha de Esaú? Seus heróis, ó Tema, se acorvadarão, de modo que todo homem será eliminado da montanha de Esaú. Por causa do morticínio e da violência praticada contra seus irmão Jacó, a vergonha cobrirá você, e você será eliminado para sempre. (grifo do autor)

Como evidencia ROSSI (2006, p. 21) a “violência e o morticínio são as causas das desgraças que se abatem sobre Edom. A vergonha é a consciência tanto da culpa como da derrota merecida”. Podemos constatar, na leitura deste trecho de Obadias, a inteligência (ou sabedoria) e a coragem militar dos edomitas não foi utilizada para o bem, mas para a promoção do mal. A ajuda dos filhos de Esaú certamente foi definitiva como ressalta ROSSI (2006, p. 24) “certamente os babilônios não estavam bem informados sobre os pontos fracos de Judá. Nesse sentido, os edomitas poderiam prestar grande serviço estratégico à Babilônia”, nisto se legitima a grande cumplicidade de Edom na queda de Judá e sua sentença dada por Javé. 

O ESCÂNDALO E A DENÚNCIA DO PROFETA

            Solidariedade, esta é a palavra chave daquilo que se esperava de Edom. Apesar de todo o histórico de desentendimentos desde os patriarcas dos dois povos, é claro que a expectativa do escritor era de uma postura mais nobre dos irmãos edomitas.
Mas ao invés de solidariedade o sentimento que norteou as ações dos edomitas foi a vingança, isto é o que escandaliza do profeta como aponta ROSSI (2006, p. 15): “a violência maior não está nos atos assassinos dos exércitos da Babilônia, mas sim no povo irmão que age como inimigo”. De fato é razoável que a babilônia respondesse com toda força ao segundo levante israelita, mas a falta de solidariedade da nação irmã, a sua incapacidade de associação e ausência de qualquer sentimento fraterno constituiu num fato gerador de grande mágoa denunciada por Obadias.
Já lemos que não é só Obadias que se escandaliza com essa postura dos edomitas, mas também Amós (1,11), Ezequiel (25,12-14;35,5), se  escandalizam e denunciam o sentimento vingativo de Edom surdo ao apelo do sangue fraterno. “Nessa situação, em que a dor se faz mais forte do que nunca, é que percebemos o profeta Abdias abrindo os olhos, a fim de notarmos algo de extrema importância: a violência vem acompanhada de falta de solidariedade” (ROSSI, 2006, p. 15). PAZDAM apud BERGANT & KARRIS (2010, p. 117) nos trás a informação de que “há até uma alegação de que os edomitas incendiaram o Templo (cf. 3Edr 4,35).”

EXPECTATIVA DE UMA JUSTIÇA DIVINA

Toda essa triste história de desentendimentos entre irmãos que constatamos quando lemos a história desses dois povos desencadeia numa espiral de ódio e vingança. E como afirma ROSSI (2006, p.26) “vingança atrapalha a vida das pessoas e as destrói por dentro”. Percebe-se tanto do lado de edomitas como por parte dos judaítas uma incapacidade de esquecer, superar ou perdoar erros antigos gerando esse círculo vicioso de ódio e violência onde um se alegra com a desgraça de seu irmão.
Se observarmos há uma desproporcionalidade na reivindicação de Obadias no verso 15 de Edom ser retribuído por Deus tal fez à Judá se recordarmos que quando Davi subjugou Edom matando todos os homens de Edom nada foi feito e ninguém se levantou para defendê-los.
É possível identificar que Javé é fiel ao seu povo escolhido e não muda de lado, tal como Edom fez. Por isso nos versos 17 e 18 é apontado que “a “casa de Jacó”, que representam as tribos do Reino de Judá, e a “casa de José” que representa as tribos do Reino de Israel, serão juntas vencedoras sobre Edom, que deixará de existir” (ROSSI, p. 28). Conforme PAZDAM apud BERGANT & KARRIS (2010, p. 117) verdadeiramente experimentou a aniquilação uma vez que “depois de 450 a.C., o nome Edom desapareceu dos resgistros históricos. Durante o reinado de Herodes Magno (37-4 a.C.), entretanto, o território designado Edom recebeu o nome de Iduméia”.
Não obstante, no verso 16 a justiça divina também se aplica ao povo escolhido de Deus, vamos tomar por base a tradução da Bíblia do Peregrino que assim traduz o texto: “Assim como bebestes em meu monte santo, beberão todas as nações por sua vez, beberão, consumirão e desaparecerão sem deixar rastro.”. Segundo o comentarista da Bíblia do Peregrino, SCHÖKEL (2006, p. 2226), “podemos imaginar que o primeiro “bebestes” refere-se aos judaítas, que já beberam até o fim a taça do castigo. Edom seguirá junto com as outras nações”. Este castigo aos judaítas, assim interpreta o autor deste artigo, ser o castigo legítimo e merecido aos judaítas não só pelo afastamento do povo da vontade de Javé, mas também castigo por ter subjugado tantas vezes de maneira tão dura ao seu irmão Edom.
Assim vemos que Javé se põe fielmente ao lado do seu povo, porém não se permite ser injusto não dando a devida retribuição aos seus filhos pelo mal que causaram uns aos outros.

CONCLUSÃO

            Sem uma aplicação pastoral, para o “chão” da comunidade cristã, toda a interpretação se torna fazia. É inútil qualquer esforço exegético se este não vier acompanhado de uma hermenêutica que dê conta de comunicar a nós hoje. E quando pensamos nisto, vemos que o Livro do Profeta Obadias é de uma riqueza inesgotável para se trazer uma reflexão profunda dos relacionamentos, que não só limitaria aos relacionamentos fraternos, mas a todos os relacionamentos interpessoais para que sejam norteados pela fraternidade, solidariedade em prol da promoção da justiça em detrimento da opressão dos poderosos.
            Outro sentimento que podemos notar no escritor de Edom seria de confiança em Javé, notem que “a descrição da queda de Edom, assim como e restabelecimento de Judá e sua dominação, testemunha a fé no poder do Deus de Israel, capaz de dominar as nações e de proteger seu povo” (MACCHI apud NIHAN, MACCHI & RÖMER, 2010. p.509).
            Seja viva nas nossas mentes e corações essa mensagem por mais fraternidade e solidariedade entre os homens.
  
BIBLIOGRAFIA

BERGANT, Dianne; KARRIS, Robert J. (Org.). Comentário Bíblico. Vol. 2. 5. ed. Trad. Bárbara Theoto Lambert. São Paulo: Loyola, 2010. 448 p.;
BÍBLIA. Português. Bíblia do Peregrino. 2. ed. Tradução Bíblia do Peregrino. São Paulo: Paulus, 2006. 3055 p.;
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Tradução CNBB. São Paulo: Paulus, 1991. 1631 p. Edição Pastoral;
RÖMER, Thomas; MACCHI, Jean-Daniel; NIHAN, Christophe (Org.). Antigo Testamento história, escritura e teologia. Trad. Gilmar Saint Clair Ribeiro. São Paulo: Loyola, 2010. 847 p.;
ROSSI, Luiz Alexandre Solano. Como Ler O Livro de Abdias Profeta da Solidariedade. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2006. 29 p.;
WILSON, Robert R. Profecia e Sociedade no Antigo Israel. São Paulo: Targumim/Paulus, 2006. 384 p.




[1] Edom, vermelho nome pelo qual é identificado o povo descente de Esaú talvez pelo fato de ser ruivo (Gn 25,25), ou ainda pela cor do guisado oferecido à ele por Jacó por ocasião da venda de sua primogenitura (Gn 25,30).
[2] Nome de Jacó que foi mudado após o episódio em Peniel (Gn 32,28).
[3] Todos os textos bíblicos deste artigo fora retirados da Bíblia Sagrada Edição Pastoral (Paulus), exceto quando mencionada outra tradução.

17/06/2013

ÓPIO OU SAL

            O título deste é claro para quem é mais “ligado”. Estou lembrando da frase de Karl Marx “A religião é o ópio do povo” (referindo-se basicamente a religião cristã) e de Jesus de Nazaré que diz aos seus discípulos: “Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens.” (Mateus 5,13).

Fonte da foto: site da "globo.com"
            Tivemos nos últimos dias espalhados por várias capitais e importantes cidades do Brasil, manifestações protestando contra o aumento de 20 centavos na passagem de ônibus. Bom, os tais 20 centavos são apenas um chamariz para algo muito mais grave que ocorre no nosso país. Já são 33 bilhões gastos na Copa do Mundo, 26 nas Olimpíadas, inúmeros bilhões na corrupção via “mensalão” e afins. Isso contrastando com um salário mínimo de pífios R$ 678,00, uma saúde pública doente, uma justiça lenta e a favor dos opressores do povo.

            Vou falar ao povo cristão. Sim, porque não é raro escutar de um cristão dizer “este mundo vai de mal a pior” ou “nós não devemos nos envolver com isso, afinal ‘não somos desse mundo’ nossa pátria é no céu”. E citam 1 João 5,19 “Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo está sob o poder do Maligno.” ou João 15:19 “Se vocês pertencessem ao mundo, ele os amaria como se fossem dele. Todavia, vocês não são do mundo, mas eu os escolhi, tirando-os do mundo; por isso o mundo os odeia.”

            Bom, estamos na velha história de texto que fora de contexto serve de um bom pretexto. E falas como estas corroboram com o que Karl Marx disse a respeito da religião e vão totalmente contra ao que pregou Jesus de Nazaré.

            Recordo de Jesus quando ele entra numa sinagoga em Nazaré (narrativa em Lucas 04,16-21) e lê um texto de Isaias 61,01-02 e, com isto, ele claramente se põe em linha com o trabalho dos profetas de Israel do Primeiro Testamento. Lembremos que a atividade do profeta é denunciar o pecado do povo ou das autoridades do povo, anunciando as consequências que isso acarreta. Profeta não é um adivinho, o futuro que ele anuncia é consequência lógica do não cumprimento da Lei de Deus. A Lei de Deus se fosse levada a sério, fortaleceria o povo, mas, sendo ignorada este comportamento geraria opressão entre o povo, logo ele ficaria enfraquecido.

            E vejam uma amostra de quais são os pecados que os profetas denunciam:

            Miquéias denuncia a opressão (02,08-09) e os opressores (07,03-04)
            Oséias vai denunciar as alianças com nações que provocam dependência, exploração econômica e opressão (07:08-12 e 12:09)
            Jeremias evoca o Ano do Jubileu* (34:08-18 nos versos 16-18 ressalta a infidelidade dos israelitas). O Ano do Jubileu (ou ano da "bondade do Senhor" ou da "graça do Senhor") era um dispositivo para que não houvesse pobres no meio do povo bem como para a promoção da justiça e bem-estar social.

            O Reino de Deus que é anunciado por Jesus é Reino onde a justiça, a fraternidade e o amor ao próximo são princípios e valores primazes, logo seus súditos devem lutar por estas causas. Sim, apesar do Reino de Deus ainda não ser pleno, ele já está entre nós (Lucas 17,21). Ele já está na Igreja, nos discípulos e discípulas de Jesus de Nazaré que levam adiante estes valores. Os valores do mundo são a injustiça, a opressão, a corrupção, o enriquecimento ilícito, dentre outras mazelas (e, por isso não devemos nos enquadrar/pertencer ao sistema opressor deste mundo). A Igreja deve fazer o seu papel de profeta e denunciar todos esses pecados. Quando a Igreja se recusa a se envolver na causa da justiça deixa de cumprir seu papel de ser luz e sal e então é merecidamente pisada pelos homens. 

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* Mais sobre o Ano do Jubileu no post: "A HISTÓRIA DA SALVAÇÃO E A MISSÃO INTEGRAL DA IGREJA" no tópico "IV – Êxodo, a História continua"

  • Mais sobre o assunto no post: "SINAIS DO REINO (2/4) - NOSSA MISSÃO" 
  • Texto de um professor meu de seminário e pós-graduação, Fabio Py, que esteve nas manifestações realizadas na cidade de Niterói/RJ: "Horrorizai-vos porque estamos nas ruas!"
  • Vídeo (em inglês) de divulgação dos fatos que estão ocorrendo no Brasil a fim de que todo mundo saiba do que está acontecendo verdadeiramente aqui: #ChangeBrazil  (< LINK com áudio em inglês e legenda em português. Vídeo abaixo com áudio e legendas em inglês.


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