Mensagem entregue a PIBVP (Primeira Igreja Batista em Vila da Penha) em 22/09/2013 pela manhã.
Talvez seja estranho para você que poste algo que parece enaltecer a primeira pessoa do singular (EU). Isto porque sempre prioriso a primeira pessoa do plural (NÓS) já que, para mim, não se dá para viver o Cristianismo fora de uma proposta que seja comunitária que é a Igreja – o projeto e Deus para que se consiga ter sinais históricos do Reino de Deus na Terra. Bom, mas hoje gostaria de falar aos corações individualmente compartilhando este poste com você.
Diferente do que diz a teologia da prosperidade, que promete felicidade intensa, júbilo permanente e um estado constante de êxtase e progresso espiritual; na verdade, o cristão está sujeito a crises e oscilações em sua fé e espiritualidade.
Antes de entrarmos mais no assunto, eu gostaria que você prestasse atenção na letra dessa música (“Acordo” de Stênio Marcius do álbum “Canções a meia noite”)
Os salmos têm sido uma fonte muito rica de exemplos de homens que expressaram com muita sinceridade suas frustrações e decepções diante de Deus.Tomemos como exemplo o Salmo 42.
A CRISE
3 “Minhas lágrimas têm sido meu alimento de dia e de noite [...] 4 choro angustiado [...] 10 os meus ossos sofrem agonia mortal”
Pinçando algumas expressões do salmista vemos claramente um quadro de crise:
1. A tristeza dá o tom dominante e o choro é uma presença contante.
2. O apetite se foi, uma vez que o salmista agora se alimente de lágrimas.
3. Ele demonstra uma sensibilidade a flor da pele, quando a simples lembrança de outros tempos o faz chorar.
4. Há um abatimento geral e todo seu corpo sofre a sua angustia.
A NATUREZA DA CRISE
Mas é quando olhamos mais atentamente os versos 3 e 4 que percebemos a natureza espiritual desta crise:
3 “Minhas lágrimas tem sido meu alimento de dia e de noite, pois me perguntam o tempo todo: “Onde está o seu Deus”?” 4 Quando lembro dessas coisas, choro angustiado. Pois costumava a ir com a multidão, conduzindo a procissão à Casa de Deus, com cantos de alegria e de ação de graças em meio a multidão que festejava.
Temos aqui a descrição de um crente em crise. Alguém cuja a fé está extremamente abalada. No centro de sua angustia esta uma pergunta que vem de fora, mas encontra eco dentro do seu coração: "Onde está o seu Deus?" A dor que esta pergunta provoca no salmista somente se justifica pelo fato de que em seu coração ele faz o mesmo questionamento.
O ANSEIO
A crise se agrava, uma vez que o salmista sente falta de algo que não pode ser entendido pelos descrentes, ele sente falta da comunhão de seus irmãos e da alegria na presença de Deus. Neste sentido, o crente em crise sofre mais que um descrente. Ele tem em seu coração a memória de um anseio que só pode ser preenchido pelo próprio Deus, como expressa no início:
(1-2) 1 Como a corça anseia por águas correntes, a minha alma anseia por ti, ó Deus. 2 A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo. Quando poderei entrar para apresentar-me a Deus?
A REAÇÃO
Assim, o salmista angustiado busca reagir a sua crise através de dois exercícios espirituais.
1. Ele conversa consigo mesmo e;
2. Ora ao seu Deus.
Vamos nos ater aqui somente ao primeiro exercício, a importância de conversar consigo mesmo.
5 “Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está assim tão perturbada dentro de mim? Ponha a sua esperança em Deus! Pois ainda o louvarei; ele é o meu Salvador e o meu Deus.”
Neste momento, o salmista não está falando com Deus, mas falando com a sua alma, a narrativa parece demonstrar que Deus permanece em silencio neste processo, ele não entra nesta conversa. Aliás, um dos sintomas de uma crise espiritual é a percepção do silencio de Deus. Neste momento onde Deus parece distante preciso agora chamar a minha alma a razão.
Lloyd Jones comenta ao expor este salmo que "falar com o nosso eu é diferente de deixar que o nosso eu fale conosco", ou seja se deixarmos nossa alma amargurada falar conosco, ela provavelmente repetirá as palavras venenosas e malignas, "Onde está o seu Deus?", mas quando decido falar a minha alma, posso exorta-la: "Ponha a sua esperança em Deus, pois ainda o louvarei!"
"Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está assim tão perturbada dentro de mim?" O salmista permanece se questionando, se há mesmo razão para tanta tristeza e angustia.
A ansiedade possui o poder de tomar conta do nosso coração mesmo que não existam razões para isto. A ansiedade é como um medo sem objeto definido, é a apreensão sem um motivo exato; é a falta daquilo que não sabemos exatamente o que é.
Em nossa crise não enxergamos as coisas com elas de fato são, e também não conseguimos enxergar a ação de Deus em nossas vidas, por isso precisamos chamar a atenção do nosso coração para que ele olhe na direção certa.
Questionar a si mesmo é um exercício espiritual fundamental na caminhada cristã, como parafraseou o poeta Stenio Marcius:
"Puxa uma cadeira ó minh´alma
Que eu quero te perguntar
Porque me roubas a calma
Me botas tristeza no olhar?
Vamos entrar num acordo,
Vida tranquila viver.
Lembra daquilo que o mestre falou:
A minha graça te basta!"
Agora farei algumas perguntas “que equilibram as emoções" são perguntas bíblicas e terapêuticas, que o cristão em crise deve fazer a sua alma:
“Que diremos, pois, diante destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?” Romanos 8,31
Qual a razão de tanto medo e ansiedade, se de fato entendo que Deus está do meu lado?
Existe alguém ou alguma coisa que seja maior do que Ele?
“Aquele que não poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, porventura, como não nos dará com ele, e de graça, todas as coisas?” Romanos 8,32
Se Deus demonstrou por mim um amor capaz de dar seu próprio filho, poderia eu ousar duvidar deste amor? Existe alguma coisa da qual sinto falta que seja maior do que esta dadiva de Deus?
“Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica.” Romanos 8,33
Se de fato fui perdoado por Deus, porque ainda sinto o peso da culpa? Porque ainda me sinto acuado pelos meus próprios pecados?
“Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome ou nudez, ou perigo, ou espada?” Romanos 8,35
Por que me sinto só, uma vez que as inúmeras circunstancias adversas somente servem para me aproximar ainda mais de Cristo?
CONCLUSÃO
Duas vozes ecoam no coração de um cristão em crise:
1. uma voz precipitada e rancorosa insiste em perguntar, "onde está o seu Deus";
2. outra pacientemente convida, "ponha a sua esperança em Deus! Pois ainda o louvarei; ele é o meu Salvador e o meu Deus."
É preciso decidir a qual voz atenderemos.
Obrigada, meu tão querido filho. Você sempre foi, desde muito menino, um utilíssimo instrumento de Deus para falar ao meu coração. Eu te amo! O Senhor te abençoe e te faça continuamente um canal de bênção.
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