Este é um texto que o Pr Fabricio Cunha da Comunidade Batista Vida Nova (São José dos Campos/SP) postou no Facebook em oferecimento aos seus colegas de vocação pela ocasião do Dia do Pastor. Gostei, e compartilho aqui com vocês...
Sou pastor.
Realizo atos pastorais. Batizo, caso, oro
pelos enfermos, visito pessoas, compartilho a Bíblia, celebro a eucaristia,
faço velórios e ofícios fúnebres.
Sou um ser ser socialmente “irrelevante” que
participo dos momentos mais relevantes das pessoas. Valho pouco para o mercado
e para as macro estruturas, mas tenho um valor insubstituível para o cotidiano
das gentes.
Gosto muito do que faço, especialmente porque
não me acostumei a nada disso. Apesar de fazer geralmente a mesma coisa, cada
ato tem vida e importância próprias, que têm o poder de me assustar e alumbrar.
Cada casamento que celebro, me lembra a
mística cristã, onde um mais um é um. Um casamento é o primeiro passo na
direção da formação de uma família e a família é a expressão mais
característica da trindade, pessoas coexistindo de forma tão hamônica a ponto
de parecerem um.
Maravilho-me ao batizar alguém. A primeira
pessoa que batizei foi um jovem chamado Téo. Téo, Deus. O Deus que me batizou,
convidando-me a batizá-lo. Ver alguém professando sua fé no Mestre, descendo às
aguás e ressurgindo, como símbolo de morte e ressurreição, faz-me continuar
crendo na possibilidade de qualquer pessoa, pela graça do Pai, ser transformada
pela ação do Espírito.
Dividir o pão da ceia, servir o cálice,
celebrar morte e vida, relembrar o sacrifício com alegria contida pela
reverência diante de algo tão grandioso, apesar de singelo, renova minha fé
naquele que se deu por mim sendo pão amassado e vinho derramado.
Visitar pessoas, orar com enfermos,
compartilhar as Escrituras são o alimento de cada dia. As visitas
presenteiam-me com as histórias que estão por detrás dos rostos. A oração pelo
que sofre gera a compaixão que me aproxima ao ponto de dividir a dor. O compartilhar,
alimenta ao que ouve e ao que fala enquanto a mesa está posta das Sagradas
Letras.
“Encomendar” alguém que parte nos põe diante
do mistério da morte, algo que nos assusta, nos violenta, tira de nós sem aviso
prévio ou licensa àquele(a) que amamos. Sem a consciência da morte, não se dá o
valor devido à vida. Sem a certeza de que ela, morte, não é detentora da última
palavra, não se vive a esperança do porvir. Poder lembrar as pessoas disso,
enquanto choramos juntos, é um privilégio sem igual em meio à dor.
É, sou pastor. A matéria prima de meu ofício é
o solo sagrado dos corações das pessoas. Piso descalço, com extremo cuidado.
Minhas ferramentas de trabalho são as Escrituras, as orações, os abraços, os
ouvidos e a boca de vez em quando.
Sim, sou pastor. Um árduo ofício, tão árduo,
quanto belo. Já pensei em desistir meia dúzia de vezes, mas não consegui. No
começo, achei que tinha um chamado. Estava enganado. Não tenho um chamado, ele
é que me tem.
Sou pastor.
Fabricio Cunha
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