OBS: Em algumas palavras estão links que vão direcionar aos textos que dão apoio/base a este post.
Eis
ai um tema interessante! Sim, sim... é verdade, ele é interessante sim! A pena
é que hoje nos deparamos com um reducionismo muito grande dessa palavra tão
cara, tão importante. Hoje ao se falar de Salvação só se remete a futuro o tal
“ir para o céu”. Só que Salvação é muito, mas muito mais que isso... Vamos
pensar em algumas coisas que os Evangelhos podem nos dizer sobre isso.
Primeiramente
a promessa de céu, não é a centralidade da mensagem do Cristo. Bem verdade que
a sua mensagem não se centraliza nele mesmo. Está estranhando isso? Veja bem, a
expressão “O Reino de Deus” supera em muito os “Eu sou” na fala de Cristo. É
certo que Cristo é O caminho, mas caminho para aquilo que Ele mais anunciou – o
Reino de Deus.
Você pode estar pensando: “Mas Reino de Deus é o céu, ué!” Hum... é, mas é também, não se resume só a céu. Digo isso porque o próprio Cristo vira-se para os seus discípulos e diz “o Reino de Deus está entre vocês”. É um teólogo inglês, John Stott, que faleceu ano passado, que trabalha muito bem esta questão do Reino de Deus já está entre nós. Ele diz que o Reino de Deus é “já” e “ainda não”. O Reino de Deus é “já” uma vez que ele já deve ser vivido (ou já se deve buscar vive-lo) na comunidade de fé através da fraternidade, solidariedade e caridade de seus membros, mas também aberto aos outros não por estratégia, mas por natureza. Assim sendo outros demais vão se agregando ao “movimento” – de fato e verdade, ao Reino.
Mas
voltemos a Salvação. Na narrativa do Gênesis está que o ser humano perde
algumas coisas quando, no decorrer da sua existência, se afasta de Deus. São
estas coisas, TODAS no campo de relacionamento, observe:
1
– Relacionamento consigo mesmo – Aquele ser que estava muito bem consigo mesmo,
a vontade e com liberdade agora se vê nu e com necessidade
que querer esconder isso – um apontamento para um desconforto consigo
mesmo e sua condição enquanto ser;
2
– Relacionamento com o outros – Aquele casal descrito na narrativa até então
estavam harmonizados entre eles, passam a se acusar mutuamente.
3
– Relacionamento com o cosmos (no sentido do meio que o cerca) – Antes o
cenário de tranqüilidade no cultivo da terra, dá agora lugar a uma terra que
produz espinhos (dificuldades).
4
– Relacionamento com Deus – Um relacionamento descrito como uma
conversa boa e amigável entre Deus e o homem no cair da tarde, dá lugar a um
cenário onde o homem passa a evitar e ter medo de estar com Deus, pela própria crise/desconforto que o homem
passa a sentir.
Todas
essas capacidades próprias de se “relacionar” bem consigo mesmo, de se
relacionar bem com o outro, com o cosmos e com Deus era próprio do ser humano.
Logo vemos que houve ai um processo de desumanização na medida em que todas
essas esferas de relacionamento foram afetadas negativamente e, de certa forma,
perdidas.
Chegamos
ao ponto da minha proposta aqui: Salvação é, para além das idéias clássicas que
vão remeter somente ao futuro e pós-vida, algo que afeta o homem hoje, na sua
existência, no chão da história. Salvação é, antes de “garantir a vida eterna” um processo de
re-humanização na vida aqui na Terra.
Todo
o homem é vocacionado para a humanização.
Em
Cristo temos o reencontro com esta vocação. Nele temos o desafio de viver o
Evangelho não por causa da morte (do que virá após a morte), mas por causa da
vida. Mas porque isso se dá em Cristo?
Só
Jesus realizou plenamente a re-humanização. Cristo é Deus que se faz homem para
ensinar a homens e mulheres o que é ser um ser humano pleno.
Sim,
me acompanhe... Falamos que o ser humano é ser humano na medida em que se
relaciona bem consigo mesmo, com o outros, com o cosmo e com Deus. Beleza até
ai? Bom vamos analizar Jesus de Nazaré, o Cristo de Deus nestas 4 esferas de
relacionamento:
1
– Consigo mesmo – Isto observamos na autoridade da sua palavra que tanto
impressionava os religiosos da sua época. Só alguém muito
consciente de si mesmo, muito bem resolvido tem a força para proclamar a
mensagem subversiva e que atacava o status quo da sua época tão desumano
(qualquer semelhança com os dias de hoje não é mera conhecidência, somos os
mesmos seres humanos desumanizados da época de Cristo, #fato). Só alguém muito
bem resolvido consigo mesmo diz "Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados" e continua “Mas eu lhes digo”. Ressalta-se que esse “eu lhes digo” não tem um
tom de arrogância, mas de autoridade de quem sabe o que é, não tem crises
quanto ao que é e, consciente de si re-interpreta com toda autoridade a Lei
Mosaica. Isto é demonstrado claramente em todo o Sermão da Montanha;
2
– Com o outro – A preocupação com o próximo é notória em todo o ministério
Jesus, a sua atenção aos marginalizados da sua época, as crianças, aos
pobres... Mas, para resumir a nossa conversa (rsrs) temos isso muito bem visto
na fala de Jesus "Ame o seu próximo como a si mesmo";
3
– Com o cosmos (ou com o meio ambiente, com o ambiente que o cerca) – Vamos
recorrer agora ao Rudolf Karl Bultmann, um teólogo alemão, que nos faz ver o que ele
chama de querigma que é a mensagem por trás dos fatos e milagres narrados no
Evangelho. Nesta linha de Bultmann é notória essa relação com a natureza (com o
meio) pela narrativa de Jesus acalmando a tempestade. A relação é tão plena,
tão, digamos, alinhada que Jesus fala para o vento “aquieta-te” e para o mar
“acalme-se” e faz-se bonança/calmaria. Só alguém integrado com o meio é capaz de tal
coisa.
4
– Com Deus – Neste ponto serei sucinto. Meu caro, só Jesus chamou Deus de Pai. No relacionamento com o transcende, com Deus,
Jesus nos apresenta a Ele como Pai e não só isso mas, a todos quanto o acolhem, o
seguem, fazem de Jesus seu Senhor, Ele concede o direito/poder de sermos
chamados Filhos de Deus.
Repito:
Em Cristo temos o reencontro com esta vocação. Nele temos o desafio de viver o
Evangelho não por causa da morte (do que virá após a morte), mas por causa da
vida. Mas porque isso se dá em Cristo. Cristo é Deus que se faz homem para
ensinar a homens e mulheres o que é ser um ser humano pleno.
O
Reino de Deus é Reino constituído hoje de homens e mulheres com esta
perspectiva que desenvolvem na sua comunidade estes relacionamentos. Que fazem a
experimentação de Deus na história de suas vidas (sentindo seu alento e
presença, a força que vem quando não se há mas esperanças, por exemplo) e com
isto tem o relacionamento consigo e com Deus restabelecidos. Mas também são
homens e mulheres que praticam a mensagem de denúncia contra a injustiça,
contra opressão, contra o egoísmo (categorias que abarca-se numa palavra:
pecado) para novamente restaurar a humanidade no sentido relacionamento com o outro
(próximo, semelhante), com o meio ambiente e também consigo mesmo quando a denúncia
do Evangelho (espada de dois gumes) atinge a si mesmo denunciando o seu próprio egoísmo,
opressão e injustiças – esse exercício deve ser constante.
Logo,
a salvação histórica, contemporânea é então a re-humanização que se encontra em Cristo. Por ela
vivemos o Reino de Deus “já”/agora dentro da comunidade e em todos os nossos
relacionamentos pela fraternidade, solidariedade e caridade, mas que é “ainda não”
pois se dará de maneira plena na ressurreição que há também em Cristo. Cabe a nós, que pertencemos a Cristo, a divulgação em palavras, ações e atitudes proclamar esta salvação, uma vez que em Cristo a missão de anunciar esta reconciliação com todas as coisas: do ser humano consigo, com o outro, com o meio e com Deus.

Muito bom conteúdo meu caro amigo Pr. Pedro! Acertou em cheio
ResponderExcluirno conteúdo do post. Pr. Wellington
Opa, meu caro! Obrigado pelo comentário, Abração! Deus abençoe!
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