03/05/2012

SAL-VA-ÇÃO... SALVAÇÃO, VAMOS PENSAR...


OBS: Em algumas palavras estão links que vão direcionar aos textos que dão apoio/base a este post.



Eis ai um tema interessante! Sim, sim... é verdade, ele é interessante sim! A pena é que hoje nos deparamos com um reducionismo muito grande dessa palavra tão cara, tão importante. Hoje ao se falar de Salvação só se remete a futuro o tal “ir para o céu”. Só que Salvação é muito, mas muito mais que isso... Vamos pensar em algumas coisas que os Evangelhos podem nos dizer sobre isso.

Primeiramente a promessa de céu, não é a centralidade da mensagem do Cristo. Bem verdade que a sua mensagem não se centraliza nele mesmo. Está estranhando isso? Veja bem, a expressão “O Reino de Deus” supera em muito os “Eu sou” na fala de Cristo. É certo que Cristo é O caminho, mas caminho para aquilo que Ele mais anunciou – o Reino de Deus.

Você pode estar pensando: “Mas Reino de Deus é o céu, ué!” Hum... é, mas é também, não se resume só a céu. Digo isso porque o próprio Cristo vira-se para os seus discípulos e diz “o Reino de Deus está entre vocês”. É um teólogo inglês, John Stott, que faleceu ano passado, que trabalha muito bem esta questão do Reino de Deus já está entre nós. Ele diz que o Reino de Deus é “já” e “ainda não”. O Reino de Deus é “já” uma vez que ele já deve ser vivido (ou já se deve buscar vive-lo) na comunidade de fé através da fraternidade, solidariedade e caridade de seus membros, mas também aberto aos outros não por estratégia, mas por natureza. Assim sendo outros demais vão se agregando ao “movimento” – de fato e verdade, ao Reino.

Mas voltemos a Salvação. Na narrativa do Gênesis está que o ser humano perde algumas coisas quando, no decorrer da sua existência, se afasta de Deus. São estas coisas, TODAS no campo de relacionamento, observe:
1 – Relacionamento consigo mesmo – Aquele ser que estava muito bem consigo mesmo, a vontade e com liberdade agora se vê nu e com necessidade que querer esconder isso – um apontamento para um desconforto consigo mesmo e sua condição enquanto ser;
2 – Relacionamento com o outros – Aquele casal descrito na narrativa até então estavam harmonizados entre eles, passam a se acusar mutuamente.
3 – Relacionamento com o cosmos (no sentido do meio que o cerca) – Antes o cenário de tranqüilidade no cultivo da terra, dá agora lugar a uma terra que produz espinhos (dificuldades).
4 – Relacionamento com Deus – Um relacionamento descrito como uma conversa boa e amigável entre Deus e o homem no cair da tarde, dá lugar a um cenário onde o homem passa a evitar e ter medo de estar com Deus, pela própria crise/desconforto que o homem passa a sentir.

Todas essas capacidades próprias de se “relacionar” bem consigo mesmo, de se relacionar bem com o outro, com o cosmos e com Deus era próprio do ser humano. Logo vemos que houve ai um processo de desumanização na medida em que todas essas esferas de relacionamento foram afetadas negativamente e, de certa forma, perdidas.

Chegamos ao ponto da minha proposta aqui: Salvação é, para além das idéias clássicas que vão remeter somente ao futuro e pós-vida, algo que afeta o homem hoje, na sua existência, no chão da história. Salvação é, antes de “garantir a vida eterna” um processo de re-humanização na vida aqui na Terra.

Todo o homem é vocacionado para a humanização.

Em Cristo temos o reencontro com esta vocação. Nele temos o desafio de viver o Evangelho não por causa da morte (do que virá após a morte), mas por causa da vida. Mas porque isso se dá em Cristo?

Só Jesus realizou plenamente a re-humanização. Cristo é Deus que se faz homem para ensinar a homens e mulheres o que é ser um ser humano pleno.

Sim, me acompanhe... Falamos que o ser humano é ser humano na medida em que se relaciona bem consigo mesmo, com o outros, com o cosmo e com Deus. Beleza até ai? Bom vamos analizar Jesus de Nazaré, o Cristo de Deus nestas 4 esferas de relacionamento:
1 – Consigo mesmo – Isto observamos na autoridade da sua palavra que tanto impressionava os religiosos da sua época. Só alguém muito consciente de si mesmo, muito bem resolvido tem a força para proclamar a mensagem subversiva e que atacava o status quo da sua época tão desumano (qualquer semelhança com os dias de hoje não é mera conhecidência, somos os mesmos seres humanos desumanizados da época de Cristo, #fato). Só alguém muito bem resolvido consigo mesmo diz "Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados" e continua “Mas eu lhes digo”. Ressalta-se que esse “eu lhes digo” não tem um tom de arrogância, mas de autoridade de quem sabe o que é, não tem crises quanto ao que é e, consciente de si re-interpreta com toda autoridade a Lei Mosaica. Isto é demonstrado claramente em todo o Sermão da Montanha;
2 – Com o outro – A preocupação com o próximo é notória em todo o ministério Jesus, a sua atenção aos marginalizados da sua época, as crianças, aos pobres... Mas, para resumir a nossa conversa (rsrs) temos isso muito bem visto na fala de Jesus "Ame o seu próximo como a si mesmo";
3 – Com o cosmos (ou com o meio ambiente, com o ambiente que o cerca) – Vamos recorrer agora ao Rudolf Karl Bultmann, um teólogo alemão, que nos faz ver o que ele chama de querigma que é a mensagem por trás dos fatos e milagres narrados no Evangelho. Nesta linha de Bultmann é notória essa relação com a natureza (com o meio) pela narrativa de Jesus acalmando a tempestade. A relação é tão plena, tão, digamos, alinhada que Jesus fala para o vento “aquieta-te” e para o mar “acalme-se” e faz-se bonança/calmaria. Só alguém integrado com o meio é capaz de tal coisa.
4 – Com Deus – Neste ponto serei sucinto. Meu caro, só Jesus chamou Deus de Pai. No relacionamento com o transcende, com Deus, Jesus nos apresenta a Ele como Pai e não só isso mas, a todos quanto o acolhem, o seguem, fazem de Jesus seu Senhor, Ele concede o direito/poder de sermos chamados Filhos de Deus.  

Repito: Em Cristo temos o reencontro com esta vocação. Nele temos o desafio de viver o Evangelho não por causa da morte (do que virá após a morte), mas por causa da vida. Mas porque isso se dá em Cristo. Cristo é Deus que se faz homem para ensinar a homens e mulheres o que é ser um ser humano pleno.

O Reino de Deus é Reino constituído hoje de homens e mulheres com esta perspectiva que desenvolvem na sua comunidade estes relacionamentos. Que fazem a experimentação de Deus na história de suas vidas (sentindo seu alento e presença, a força que vem quando não se há mas esperanças, por exemplo) e com isto tem o relacionamento consigo e com Deus restabelecidos. Mas também são homens e mulheres que praticam a mensagem de denúncia contra a injustiça, contra opressão, contra o egoísmo (categorias que abarca-se numa palavra: pecado) para novamente restaurar a humanidade no sentido relacionamento com o outro (próximo, semelhante), com o meio ambiente e também consigo mesmo quando a denúncia do Evangelho (espada de dois gumes) atinge a si mesmo denunciando o seu próprio egoísmo, opressão e injustiças – esse exercício deve ser constante.

Logo, a salvação histórica, contemporânea é então a re-humanização que se encontra em Cristo. Por ela vivemos o Reino de Deus “já”/agora dentro da comunidade e em todos os nossos relacionamentos pela fraternidade, solidariedade e caridade, mas que é “ainda não” pois se dará de maneira plena na ressurreição que há também em Cristo. Cabe a nós, que pertencemos a Cristo, a divulgação em palavras, ações e atitudes proclamar esta salvação, uma vez que em Cristo a missão de anunciar esta reconciliação com todas as coisas: do ser humano consigo, com o outro, com o meio e com Deus.

2 comentários:

  1. Muito bom conteúdo meu caro amigo Pr. Pedro! Acertou em cheio
    no conteúdo do post. Pr. Wellington

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    1. Opa, meu caro! Obrigado pelo comentário, Abração! Deus abençoe!

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