Pedro Barbuto: O "LADRÃO", O "BISPO", O "MISSIONÁRIO" E O "APÓSTOLO"

Uma leitura de um determinado segmento dessa "fauna evangélica" brasileira.

Ultimamente tenho pensado bastante no Evangelho de João 10 versículo 10. Esse trecho é extremamente conhecido da comunidade Cristã, mas não sei o motivo recebeu e recebe até hoje uma interpretação completamente equivocada.

O trecho é Jesus dizendo o seguinte: “O ladrão vem apenas para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente.”. Fala ai, é capaz de alguém está se perguntando: Ué, não é o Diabo que veio matar, roubar e destruir? Não, não... Esse trecho vem sendo interpretado tão erradamente ao longo do tempo que há quem leia ele já de maneira errada, ou não é difícil ver alguém cita-lo erradamente pondo “Diabo” em lugar de “ladrão”.

Sim, não há diabo, capeta, capiroto, coisa ruim ou o nome que você goste de dar a entidade opositora à Deus. O que há é o ladrão, e quem é ladrão está nos próximos versículos anteriores ao verso 10. Veja o que diz o versículo 1 “Eu lhes asseguro que aquele que não entra no aprisco das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante.” E olhe agora o versículo 8 “Todos os que vieram antes de mim eram ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os ouviram.” Entenderam? O ladrão é aquele que não entra pela porta, mas pula o muro para entrar no aprisco (o cercado onde ficam as ovelhas) e são todos aqueles que vieram antes de Cristo. E todos estes que vieram antes de Cristão são os falsos profetas e falsos messias – estes são os ladrões, gente de carne e osso!

Falsos profetas e falsos messias (ladrões) que não foram enviados por Deus (pularam o muro) enganavam o povo, exploravam o povo, roubavam o povo... Hum... está pensando o que estou pensando? Vou te contar uma historinha sobre os evangélicos no Brasil.

Evangélicos e/ou Protestantes tem dois grandes “trocos”: o protestantismo clássico ou histórico (Luteranos, Presbiterianos, Batistas, Congregacionais) e o protestantismo pentecostal (Congregação Cristã no Brasil, Assembléia de Deus).

Vamos dar uma de sociólogos agora para falar do tronco pentecostal. O movimento pentecostal divide-se em 3 momentos, são as chamadas “3 ondas”. A primeira onda surge com a “Congregação Crista no Brasil” e a “Assembléia de Deus” (uma divisão da Primeira Igreja Batista de Belém/PA); elas surgem com ênfase no Batismo do Espírito Santo (falar em línguas) e rigor nos costumes. Atingem classes sociais mais desfavorecidas economicamente ainda não atingidas pelas igrejas do protestantismo histórico. Por volta das décadas 40/50 houve uma segunda onda com as igrejas “Deus é Amor” e “Brasil para Cristo” tendo como destaque a operação de curas e prodígios. Há o início da inserção de programas próprios na mídia. E, mais recentemente, uma terceira onda com a “Igreja Vida Nova”, “IURD” (Igreja Universal do Reino de Deus), “Internacional da Graça de Deus” e “Mundial do Poder de Deus” que parecem encarar uma visão de mercado com grande foco na Teologia da Prosperidade onde comunhão com Deus resulta em prosperidade financeira. Além dessas, suas características são:

Empresariais – elas vendem bens, exemplo bem-estar financeiro;
Distanciamento com a Bíblia, não havendo rigor hermenêutico (rigor na interpretação correta ou ao menos mais reflexiva da Bíblia);
Inexistência do sentimento de comunidade; há freqüentadores, clientes;
Inexistência de espírito de culto;
Ambiente de Magia, parecido com a pajelança onde são revelados os “mistérios” e realizados os “milagres”;
Retorno ao clericalismo (é o bispo, o missionário, o apóstolo que ocupam o topo de uma extensa hierarquia).

Seria uma irresponsabilidade dizer que não há cristãos verdadeiros e piedosos nesse meio da terceira onda. Contudo, nela é encontrado em seus líderes (bispos, apóstolos, missionários e “apóstolos vaqueiros”) os maiores escândalos que envergonham o Evangelho e os evangélicos e/ou protestantes – de certa forma o nome cristão. Sua prática distancia e muito do projeto do Cristo que afirma ser o seu "jugo suave e fardo leve" em relação aos fariseus da época que impunha regras que eles mesmos não conseguiam cumprir e, ao invés de gerar saúde e libertação ao homem, esses falsos profetas e falsos ministros do Evangelho tem proporcionado mais doença e opressão...

Volto agora ao texto de João capítulo 10 versículo 10. Estes são os novos falsos messias e profetas que não vieram antes de Cristo, mas depois de Cristo e, em nome de Cristo, fazem vergonha a mensagem redentora e transformadora de Salvação, fazendo um grande mal a Igreja de Jesus Cristo. Eles:

MATAM – A identidade e a personalidade. Estão longe de ser cristão, pois não buscam na Palavra de Deus a essência do que vem a ser um discípulo de Cristo;
ROUBAM - A esperança. Sua doutrina falha de débil da Prosperidade acaba com a esperança de homens e mulheres que dão o que tem o que não tem na esperança de alcançar uma “Graça” um “favor” e não recebem;
DESTROEM – Os relacionamentos. Não há possibilidade de haver um verdadeiro relacionamento num meio em que a relação se dá pela dinâmica cliente e fornecedor. Neste cenário não há possibilidade de viver essa coisa tão gostosa que é a vivência comunidade, de poder partilhar com os irmãos suas alegrias e tristezas e nisto ser aparado, apoiado...

Estes bispos, apóstolos, missionários, vem tão somente para matar, roubar e destruir. Algo muito diferente de Jesus Cristo que veio pra trazer vida e vida em abundância (vida plena). Por trás dos feitos e milagres de Jesus, o que há de verdade é a transformação de vidas e resgate da dignidade de homens e mulheres e busca da plenitude humana. Este, sim, é o que posso chamar de Plano de Deus para Salvação do Homem tão presente desde a formação do povo de Israel, no Êxodo, nos profetas e potencializado em Cristo.