O
tema deste post vem de uma historinha em que uma criança pergunta a outra o
motivo da cor do céu ser azul. Depois de pensar um pouquinho ela é respondida
com uma sentença “cheia” de certeza: “O céu é azul porque Deus é menino, se
fosse menina seria rosa, ué!”
Antes
que você saia daqui para saber o motivo do céu ser azul eu te digo: A
explicação para essa pergunta pode ser dada a partir de um fenômeno físico que
ocorre na atmosfera, denominado de espalhamento de Rayleigh. Como se sabe, a
radiação solar que aquece a Terra é uma luz extremamente brilhosa e branca,
porém composta por várias outras tonalidades de cor, cada qual com um
comprimento de onda específico. O que ocorre é que quando a luz penetra na
atmosfera ela atinge os átomos de nitrogênio e oxigênio, bem como as outras
partículas que compõem a atmosfera, dando origem ao fenômeno do espalhamento.
Como
sabemos, a luz é uma onda que possui vários comprimentos. Segundo o fenômeno
físico do espalhamento, a luz solar é espalhada em várias direções e com várias
tonalidades de cor, cada uma com um comprimento de onda específico, no entanto,
a onda que possui o comprimento da cor azul é bem mais definida e eficiente do
que as outras. Por esse motivo é que vemos o Sol como um disco brilhante e o
restante do céu todo azul, justamente em razão do efeito que a luz provoca
sobre os átomos que compõem o ar, a qual faz com que a luz seja espalhada em
vários comprimentos de onda, dos quais somente percebemos a cor azul.
Bom,
mas deixando piadinhas e ciência de lado, passemos para a observação. Na
historia a criança responde a pergunta dizendo que o céu é azul porque Deus é
menino, devido ao fato de que essa é a imagem que geralmente temos de Deus.
Deus é sempre visto como um ser masculino. Mas o que podemos extrair de
elementos femininos para a compreensão de Deus? Um momentinho! Vamos deixar
claro uma coisa: Deus, na verdade, não
deve ser identificado com nenhuma dimensão, Ele simplesmente É; o Deus “Eu
Sou”. Deus não tem sexo, mas à medida que o ser humano é a imagem e semelhança
de Deus, ambos os gêneros (masculino e feminino) podem contribuir com analogias
para poder dizer algo de Deus, o que nos faz ampliar o leque de atributos e
características de Deus dando uma visão mais ampla do ser divino.
A
proposta aqui é uma visão que considere homem e mulher criados a imagem de Deus
o que naturalmente irá refletir na dignidade da mulher na igreja e o ministério
feminino. Comecemos com um pouquinho de história...
Temos
uma imagem masculina de Deus, pois Ele é Deus Pai, é Senhor, Deus Forte Varão
de Guerra... Estamos, na Bíblia, em uma sociedade patriarcal em que o homem é
autoridade.
Mas
se Deus é Pai ele também e Mãe, sabemos que seu Espírito consola, conforta,
cuida, ensina, gera vida... Sentimentos e ações próprias do “universo feminino”.
O Espírito
Santo é a pessoa da trindade que mais carrega nas suas ações essas características
e traços que foram recebidos pelas mulheres de Deus. Mas mesmo assim Ele é O EspíritO
SantO, mas nem sempre foi assim.
No Primeiro
Testamento, o Espírito Santo é a ruach
(do hebraico) de Deus, ruach é uma
palavra do gênero feminino. No Segundo Testamento, Ele é pneuma (do grego), essa palavra é neutra (nem feminino, nem
masculino). Contudo Ele ganha definitivamente traço masculino quanto a palavra
neutra pneuma é traduzida para o
latim spiritus que é do gênero
masculino. Percebe a “mutação” ao longo da história? Ruach – palavra hebraica de gênero feminino no Primeiro Testamento;
Pneuma – palavra grega de gênero
neutro no Segundo Testamento; Spiritus
– palavra latina de gênero masculino.
Repito:
Deus, na verdade, não deve ser
identificado com nenhuma dimensão, Ele não tem sexo. E acrescento: Deus está
para além de um discurso que podemos confeccionar sobre Ele, a Teologia não
conseguirá esgotar uma fala sobre o Mistério e não podemos nos limitar a uma ou
outra definição ou imagem de Deus. Se nos atermos a uma definição e imagem de
Deus estaremos construindo um ídolo que não seja de metal, mas mental, contudo
um ídolo de qualquer forma.
O
que há no universo feminino que podemos usar para realizar uma analogia e apreender
sobre características de Deus?
1.
O Espírito, ou melhor a ruach de Deus cuida, protege
Em
Isaias 11,4 “ferirá terra com a vara de sua boca e com o sopro dos seus lábios matará o perverso”.
O
Espírito é o poder pessoal do Deus vivo que a ele pertence como se fosse a sua
respiração. As ações do Espírito de Deus são as ações do próprio Deus. E quando
pensamos nesse nível de cuidado lembramos do cuidado que uma mãe ou uma fêmea
tem com seus filhos e filhotes respectivamente. Por isso o salmista descansa em
Deus “qual criança desmamada sobre o seio de sua mãe” (salmos 131,2). Jesus falando
sobre a ignorância da cidade de Jerusalém lamenta: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, apedrejas os que a ti são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não o quiseste!” (Mateus 23,37)
2.
O Espírito, ou melhor, a ruach de Deus gera a vida.
Em Gênesis1,2 temos a ruach de Deus pairando
sobre a face das águas. É a potência criadora, pela qual Deus cria, conserva e
sustenta toda a obra da criação.
Mais
à frente, em Gênesis 2,7 vemos a ruach
de Deus sendo inflada na humanidade concedendo-lhe (gerando) a vida.
No
Livro do Jó (33,4), temos o personagem principal declarando que “O Espírito de Deus me fez; o sopro do Todo Poderoso me dá vida”.
O
Salmista canta que “mediante a palavra do Senhor foram feitos os céus, e os corpos celestes, pelo sopro (ruach) de sua boca” (Salmos 33,6).
É o
sopro de Deus que gera a vida nos ossos secos em Ezequiel 37,9.
Jesus,
quando fala à Nicodemos diz: “Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito (pneuma), não pode entrar no reino de Deus”. (João 3,5) O Espírito aqui é como se fosse o
“útero de Deus” para nos renascermos em novidade de vida.
3.
O Espírito, ou melhor, a pneuma de Deus não
faz distinção de homem e mulher.
Em Jesus
nos vemos a dignidade e importância da mulher sendo resgatada. Numa sociedade
fechada religiosamente falando e machista como era a de Israel, onde eles entendiam que somente eles eram os
receptores e detentores da graça de Deus, Jesus enaltece duas pessoas cuja fé era
maior do que qualquer um do povo de Israel. O primeiro é de um Centurião (um
estrangeiro) em Mateus 08, 5 Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, chegou-se a ele um centurião que lhe rogava, dizendo: 6 Senhor, o meu criado jaz em casa paralítico, e horrivelmente atormentado. 7 Respondeu-lhe Jesus: Eu irei, e o curarei. 8 O centurião, porém, replicou-lhe: Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado; mas somente dize uma palavra, e o meu criado há de sarar. 9 Pois também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz. 10 Jesus, ouvindo isso, admirou-se, e disse aos que o seguiam: Em verdade vos digo que a ninguém encontrei em Israel com tamanha fé. 11 Também vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e reclinar-se-ão à mesa de Abraão, Isaque e Jacó, no reino dos céus; 12 mas os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes. 13 Então disse Jesus ao centurião: Vai-te, e te seja feito assim como creste. E naquela mesma hora o seu criado sarou.
A
segunda é uma mulher e, para a admiração de todos não era somente uma mulher,
mas também uma mulher estrangeira (Cananéia) que pedia cura para a sua filha! E
a ela Jesus disse: “ó mulher, grande é a tua fé! Seja-te feito como queres. E desde aquela hora sua filha ficou sã.” (Mateus 15,28).
Sabemos
que no Reino de Deus “Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” (Gálatas 3,28). O mesmo Paulo, que escreveu aos Gálatas, após enumerar uma série de dons em sua 1ª carta aos Coríntios 12 ele termina ensinando que “11 Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, distribuindo particularmente a cada um como quer.”
Enfim,
essa é a mensagem evangélica. Uma mensagem igualitária e libertadora que
concede a homens e mulheres, discípulos e discípulos igual dignidade. O nosso
desafio como cristão é ser submisso a Palavra de Deus que anuncia que homem e
mulher foram criados a imagem e semelhança de Deus e são dotados da mesma importância.
O nosso desafio é resgatar essa mensagem, incluir estas verdades no nosso
discurso e, principalmente na nossa prática eclesial e da vida como um todo.
Que Deus
abençoe a todos (homens e mulheres), e hoje, em especial, parabéns as nossas
mulheres, meu desejo é que a mensagem evangélica possa mudar a realidade de
locais onde ainda não dê para dizer que todos, independentemente se homem ou
mulheres, mas todos nós somos um e dotados de mesma dignidade. Amém!

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