08/03/2013

O CÉU É AZUL PORQUE DEUS É MENINO?


            O tema deste post vem de uma historinha em que uma criança pergunta a outra o motivo da cor do céu ser azul. Depois de pensar um pouquinho ela é respondida com uma sentença “cheia” de certeza: “O céu é azul porque Deus é menino, se fosse menina seria rosa, ué!”
        Antes que você saia daqui para saber o motivo do céu ser azul eu te digo: A explicação para essa pergunta pode ser dada a partir de um fenômeno físico que ocorre na atmosfera, denominado de espalhamento de Rayleigh. Como se sabe, a radiação solar que aquece a Terra é uma luz extremamente brilhosa e branca, porém composta por várias outras tonalidades de cor, cada qual com um comprimento de onda específico. O que ocorre é que quando a luz penetra na atmosfera ela atinge os átomos de nitrogênio e oxigênio, bem como as outras partículas que compõem a atmosfera, dando origem ao fenômeno do espalhamento.
        Como sabemos, a luz é uma onda que possui vários comprimentos. Segundo o fenômeno físico do espalhamento, a luz solar é espalhada em várias direções e com várias tonalidades de cor, cada uma com um comprimento de onda específico, no entanto, a onda que possui o comprimento da cor azul é bem mais definida e eficiente do que as outras. Por esse motivo é que vemos o Sol como um disco brilhante e o restante do céu todo azul, justamente em razão do efeito que a luz provoca sobre os átomos que compõem o ar, a qual faz com que a luz seja espalhada em vários comprimentos de onda, dos quais somente percebemos a cor azul.

            Bom, mas deixando piadinhas e ciência de lado, passemos para a observação. Na historia a criança responde a pergunta dizendo que o céu é azul porque Deus é menino, devido ao fato de que essa é a imagem que geralmente temos de Deus. Deus é sempre visto como um ser masculino. Mas o que podemos extrair de elementos femininos para a compreensão de Deus? Um momentinho! Vamos deixar claro uma coisa: Deus, na verdade, não deve ser identificado com nenhuma dimensão, Ele simplesmente É; o Deus “Eu Sou”. Deus não tem sexo, mas à medida que o ser humano é a imagem e semelhança de Deus, ambos os gêneros (masculino e feminino) podem contribuir com analogias para poder dizer algo de Deus, o que nos faz ampliar o leque de atributos e características de Deus dando uma visão mais ampla do ser divino.
            A proposta aqui é uma visão que considere homem e mulher criados a imagem de Deus o que naturalmente irá refletir na dignidade da mulher na igreja e o ministério feminino. Comecemos com um pouquinho de história...
            Temos uma imagem masculina de Deus, pois Ele é Deus Pai, é Senhor, Deus Forte Varão de Guerra... Estamos, na Bíblia, em uma sociedade patriarcal em que o homem é autoridade.
            Mas se Deus é Pai ele também e Mãe, sabemos que seu Espírito consola, conforta, cuida, ensina, gera vida... Sentimentos e ações próprias do “universo feminino”.
            O Espírito Santo é a pessoa da trindade que mais carrega nas suas ações essas características e traços que foram recebidos pelas mulheres de Deus. Mas mesmo assim Ele é O EspíritO SantO, mas nem sempre foi assim.
            No Primeiro Testamento, o Espírito Santo é a ruach (do hebraico) de Deus, ruach é uma palavra do gênero feminino. No Segundo Testamento, Ele é pneuma (do grego), essa palavra é neutra (nem feminino, nem masculino). Contudo Ele ganha definitivamente traço masculino quanto a palavra neutra pneuma é traduzida para o latim spiritus que é do gênero masculino. Percebe a “mutação” ao longo da história? Ruach – palavra hebraica de gênero feminino no Primeiro Testamento; Pneuma – palavra grega de gênero neutro no Segundo Testamento; Spiritus – palavra latina de gênero masculino.
            Repito: Deus, na verdade, não deve ser identificado com nenhuma dimensão, Ele não tem sexo. E acrescento: Deus está para além de um discurso que podemos confeccionar sobre Ele, a Teologia não conseguirá esgotar uma fala sobre o Mistério e não podemos nos limitar a uma ou outra definição ou imagem de Deus. Se nos atermos a uma definição e imagem de Deus estaremos construindo um ídolo que não seja de metal, mas mental, contudo um ídolo de qualquer forma.
            O que há no universo feminino que podemos usar para realizar uma analogia e apreender sobre características de Deus?

1.      O Espírito, ou melhor a ruach de Deus cuida, protege
            O Espírito é o poder pessoal do Deus vivo que a ele pertence como se fosse a sua respiração. As ações do Espírito de Deus são as ações do próprio Deus. E quando pensamos nesse nível de cuidado lembramos do cuidado que uma mãe ou uma fêmea tem com seus filhos e filhotes respectivamente. Por isso o salmista descansa em Deus “qual criança desmamada sobre o seio de sua mãe” (salmos 131,2). Jesus falando sobre a ignorância da cidade de Jerusalém lamenta: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, apedrejas os que a ti são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não o quiseste!” (Mateus 23,37)
2.      O Espírito, ou melhor, a ruach de Deus gera a vida.
            Em Gênesis1,2 temos a ruach de Deus pairando sobre a face das águas. É a potência criadora, pela qual Deus cria, conserva e sustenta toda a obra da criação.
            Mais à frente, em Gênesis 2,7 vemos a ruach de Deus sendo inflada na humanidade concedendo-lhe (gerando) a vida.
            No Livro do Jó (33,4), temos o personagem principal declarando que “O Espírito de Deus me fez; o sopro do Todo Poderoso me dá vida”.
            É o sopro de Deus que gera a vida nos ossos secos em Ezequiel 37,9.
            Jesus, quando fala à Nicodemos diz: “Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito (pneuma), não pode entrar no reino de Deus”. (João 3,5) O Espírito aqui é como se fosse o “útero de Deus” para nos renascermos em novidade de vida. 
3.      O Espírito, ou melhor, a pneuma de Deus não faz distinção de homem e mulher.
            A segunda é uma mulher e, para a admiração de todos não era somente uma mulher, mas também uma mulher estrangeira (Cananéia) que pedia cura para a sua filha! E a ela Jesus disse:ó mulher, grande é a tua fé! Seja-te feito como queres. E desde aquela hora sua filha ficou sã.” (Mateus 15,28).

            Enfim, essa é a mensagem evangélica. Uma mensagem igualitária e libertadora que concede a homens e mulheres, discípulos e discípulos igual dignidade. O nosso desafio como cristão é ser submisso a Palavra de Deus que anuncia que homem e mulher foram criados a imagem e semelhança de Deus e são dotados da mesma importância. O nosso desafio é resgatar essa mensagem, incluir estas verdades no nosso discurso e, principalmente na nossa prática eclesial e da vida como um todo.
            Que Deus abençoe a todos (homens e mulheres), e hoje, em especial, parabéns as nossas mulheres, meu desejo é que a mensagem evangélica possa mudar a realidade de locais onde ainda não dê para dizer que todos, independentemente se homem ou mulheres, mas todos nós somos um e dotados de mesma dignidade. Amém!

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